Falar de Proteção da Saúde Mental em Situações de Catástrofe e Emergência é considerar as diferentes interfaces do processo saúde-doença, com seus aspetos sociais que tanto influem no bem-estar da população.
Do ponto de vista da saúde mental, em situações de grandes emergências, toda a população deve considerar-se como vítima de lesões e angústias, em maior ou menor medida, diretamente ou indiretamente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a intervenção deve ser direcionada para os seguintes campos: Ajuda humanitária e social; Aconselhamento à população e a grupos de risco; Comunicação social; e Gestão de situações específicas de pessoas com perturbações mentais.
Depois da emergência propriamente dita, os problemas de saúde mental dos sobreviventes requerem assistência durante um período prolongado, quando tiverem que enfrentar a tarefa de reconstruir suas vidas.
A OMS preconiza para que num plano de saúde mental em situações de desastre e emergência se considere a assistência à saúde mental a partir de um diagnóstico comunitário amplo e abrangente, que tenha em consideração o contexto sociocultural, género, grupos de faixa etária, identificação de lideranças, autodefinição de necessidades pela própria população, situação de direitos humanos, etc, uma estratégia que vise a formação de facilitadores ou promotores sociais, levando-se em conta o conhecimento que estes têm dos processos comunitários e da idiossincrasia das populações afetadas e a assistência à saúde mental em situações de emergência, como a realização de técnicas de intervenção em crise que devem ser realizadas nas máximas condições de segurança, sob orientação das entidades responsáveis pela área de proteção civil.
Em relação aos referidos planos de saúde mental devem-se priorizar as situações de medo e a aflição, como consequência das perdas e danos e/ou pelo medo da recorrência da situação traumática, as perturbações psicopatológicas ou doenças psiquiátricas evidentes e a desordem social, violência e consumo de substâncias psicoativas. Isto inclui atos de vandalismo e de delinquência, rebeliões, abuso sexual, violência intrafamiliar, etc.
Aquando a situação de desastres naturais, delimitam-se quatro grandes etapas:
Período prévio ou pré-crítico: Esta etapa prévia pode ser mais ou menos prolongada, de acordo com o tipo de desastre. No entanto, a existência de um plano preventivo é fundamental na redução da vulnerabilidade da própria população.
Período crítico ou da emergência propriamente dita: Este período crítico também é variável quanto à duração e características, dependendo do tipo de evento e de sua magnitude. Nesse momento, o fundamental para a população é sua segurança pessoal e familiar e a satisfação de suas necessidades básicas e de sobrevivência.
Período pós-crítico: A etapa pós-crítica dá-se num período de 15 a 30 dias após o evento. Na maior parte das ocasiões são os grupos de ajuda externa e a mobilização das organizações nacionais que intervêm nessa etapa do desastre. Nesses momentos são trabalhados os processos de intervenção em crise e gestão de situações específicas.
Período de recuperação: Esta etapa deve-se iniciar o mais cedo possível no qual as instituições de saúde e outras instituições têm de enfrentar com os seus próprios recursos as tarefas normais, além daquelas que correspondem à recuperação psicossocial do desastre.
Se considerarmos as notícias sobre os desastres naturais, (como exemplo, os aluviões em Portugal – Madeira e Açores, os furacões nos Estados Unidos da América, os sismos na Indonésia, Haiti, Japão, entre outros países, tendo em conta aos diferentes riscos ambientais) têm-se verificado que estes face às suas dimensões têm vindo a afetar as atividades humanas, com perda de vidas e bens materiais, causando grandes prejuízos humanos e econômicos.
A importância de se tratar com abrangência o seu impacto leva a que muitas entidades responsáveis se preocupem cada vez mais com estas questões, dando importância à criação de planos preventivos.
Apesar dos aspetos da crise propriamente dita, pretende-se que estas deixem como consequência um crescimento pessoal e o fortalecimento dos mecanismos individuais e grupais para se enfrentar o problema, bem como o fortalecimento da rede de apoio social.
Luís Miguel Afonso Andrade
Subchefe na A.H. de Bombeiros Voluntários Madeirenses,
Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria
e Pós-Graduado em Urgência e Emergência