Meus caros Camaradas, na minha última crónica aqui publicada, escrevi sobre uma visão totalmente diferente do conceito de performance, algo que para lá da eficiência e da eficácia, conjugava também a equidade, alguns terão dito, lá vem este com coisas teóricas armado em “inteletual”, pois bem, parecia que estava a adivinhar…
Depois da minha última crónica neste nosso “mundo” dos Bombeiros, muita “água correu debaixo da ponte”, ele foi os Incêndios na Madeira, ele foi o Incêndio do Algarve, ele foi ameaças de paralisações e de manifestações, ele foi mais uma vez a infeliz morte de dois nos Nossos Camaradas, ele foi o “pedir” de cabeças pelos diversos Player´s deste jogo pouco simpático e honesto, onde cada qual, que está na mesma condição deste que vos escreve, tem a sensação de ser um peão num imenso tabuleiro de xadrez e por fim, esta coisa de relatórios e contra-relatórios que mais me parecem com visões pouco claras de um determinado ângulo da “estória” e de uns quantos ajustes de contas.
Bem, sendo eu um fervoroso adepto da discussão, e tendo por cenário o que atrás escrevi, até pareceria que tenho vivido nas minhas “sete quintas” estas últimas semanas, pois por incrível que pareça, nem por isso.
Por exemplo, foi em socorro dos nossos compatriotas da Madeira uma força constituída por 75 homens, 25 do Grupo de Intervenção Protecção e Socorro, da GNR, 25 da Força Especial de Bombeiros e mais 25 Bombeiros Voluntários de CB´s do Distrito de Lisboa, todos eles comandados pelo Sr. CODIS de Beja e pelo 2º CODIS de Aveiro e restante apoio. Por incrível que pareça as Televisões só conseguiram passar a “ideia” de que na Madeira estariam uns seres “mitológicos” detentores de uma qualquer força, inteligência e formação que por si só iriam debelar a situação, ignorando por completo que na mesma ilha estariam outros 25 que estavam a fazer o mesmo serviço, mas vestidos de vermelho e azul, até consigo compreender o gosto que os média têm pela farda e pelo modo de estar dos GIPS e da FEB, e assim conseguir ter uns minutos de “share”, agora não entendo que quem trabalha a informação na rectaguarda não tenha tido a visão da situação e tentasse minorar estes olhares tão cirúrgicos que iam chegando ao Continente, mais uma vez fiquei com a ideia que em Carnaxide se tem medo de Comandar, tentando de um modo ingénuo e naïf, agradar a todos os “sectores”, mas depois deixando esses mesmos entregues a si próprios.
Quase em acto continuo decorria um incêndio na serra do caldeirão, nada que numa primeira noticia não fosse levado em linha de conta como um “incidente” importante, mas nunca como podendo vir a ser dias mais tarde, considerado talvez, como o segundo maior Teatro de Operações no que diz respeito a operacionais, veículos, aeronaves e outros equipamentos envolvidos no combate a um incêndio florestal, pois o 1º lugar deve continuar, felizmente ainda por muitos anos entregue a Oleiros no fim dos anos 80 do século passado.
No intermeio e depois de um “convívio” ali para os lados das Caldas da Rainha, os Dirigentes Associativos e Operacionais decidiram tomar “de assalto” as principais Capitais de Distrito, num determinado dia de Agosto e na primeira semana de Setembro encetar uma original paralisação de Entidades Patronais, mas depois de umas “difíceis” negociações tudo ficou resolvido, foi prometido o “céu” e um Grupo de Trabalho que terá mais ou menos o Verão para decidir, sobre se se decide decidir aquilo que ninguém quer decidir, mas que toda a gente sabe que está decidido, mais ou menos aquilo que normalmente o pessoal mais rude denomina “xutar para a frente”, sendo que, neste momento já se levantam vozes dissidentes deste “acordo” de nada, que contraria a decisão de muitos… Mas aguardemos os desenlaces da “história da carochinha”!
Mas como os ventos da discórdia se estavam a levantar no seio dos “Bombeiros” há que encontrar nova distração, e eis que surge uma “cavalgada” pela transparência e verdade operacional sobre aquilo que se passou na Serra do Caldeirão, sendo tal, como num circo romano constantemente ouvido o apelo de “mata, mata, mata,….” sobre todos aqueles que de certo modo reagiram ao sinistro, como Comandantes, Comandantes Distritais, Comandante Nacional e até Presidente da ANPC, bem sei que a reação poderia ter sido muito mais eficaz, eficiente, mas dificilmente seria equitativa, pois aqueles a que se deveria pedir responsabilidades pelos vistos foram ignorados, sim os responsáveis pelo território, pela população, pelos seus bens, pelos seus rendimentos, é claro que falo do Poder Politico, seja ele Municipal ou Nacional, pois têm de ser eles a dotar os seus Serviços das ferramentas necessárias para que a performance daqueles que reagem aos sinistros seja eficaz, eficiente, equitativa, coisa que nunca o foi.
Sim porque nesses relatórios que por aí li, todos referem como condições desfavoráveis, a temperatura, a humidade, o relevo, as poucas acessibilidades, as condições orográficas para que os incêndios tenham comportamentos eruptivos e que ganhem grande velocidade de propagação, etc., mas diabo, estes factores não são nem podem ser passiveis de ser ignorados pelos Responsáveis Locais, pois ano após ano as condições meteorológicas ou são semelhantes ou tem-se vindo a agravar, as inexistentes ou deterioradas acessibilidades já o são assim há anos, as características orográficas são-no assim há milhares de anos, como tal não se compreende este desleixo por parte daqueles que deveriam ter elaborado o planeamento para aquilo que mais dia, menos dia poderia acontecer, coisa que não foi feita, pois quando se deixa entregue a resolução de um sinistro a dez Operacionais munidos de ferramentas manuais e um Veiculo Ligeiro de Combate a Incêndios, durante mais de 30 minutos, porque os meios de apoio “musculado” não conseguiram chegar ao local, o resultado só pode ser o que se verificou.
Não é que os Dirigentes Operacionais que passaram pelo Comando das Operações não pudessem ter feito mais e melhor, ter sido mais eficazes ou mesmo mais eficientes, mas uma coisa eu posso garantir, a equidade para o fazer, era nenhuma e por isso, por muito que tivessem sido eficazes ou eficientes, jamais teriam tido uma grande performance.
Por fim, uma palavra para os “actores” que nos foram enchendo os olhos e ouvidos com “cantigas do bandido” quais vendedores de “banha da cobra”, aproveitando todos os minutos de “exposição”, desde entrevistas, cerimonias fúnebres, jornais etc, todo serviu para falar muito e pouco ou nada dizer.
Continuamos a ouvir “discursos” que ficariam desajustados, nos tempos que correm até na Praça Vermelha, na Praça de Tian An Men, ou mesmo em Pyongyang, mas que por cá parece que para lá do cheiro característico da naftalina, ainda parecem conseguir apoiantes, mas tal como aconteceu nos locais acima referidos, excluindo por enquanto Pyongyang, ventos de renovação já por lá fazem, com mais ou menos “estrondo” a sua passagem.
Eu como Bombeiro Voluntario não quero ser visto como um Grande Cidadão, ou mesmo que alguém diga que estou ali para dar a vida por vida, desculpem os Camaradas mais “experientes”, mas nos tempos de hoje nenhum Comandante manda avançar para a morte os seus mais valiosos recursos humanos, no sentido de tentar salvar, isso são características não de Comandantes mas de Lideres Religiosos Terroristas, esses sim, mandam para a frente de batalha “soldados”, que vão mas não voltam!
Eu enquanto Cidadão e Bombeiro quero ir e voltar em segurança, sem que a mesma seja colocada em causa quer conscientemente quer inconscientemente por um qualquer “lunático” que esteja no comandamento das operações!
Eu quando vou pra um piquete ou para o “combate” ou qualquer sinistro despeço-me da minha mulher, da minha filha e dos meus pais, com um até já e nunca com um até sempre! No dia que eu tiver consciência de que a minha acção deixar de ser profissional e passar a ser “emocional”, então nesse dia, espero ter ainda tempo de pedir a minha resignação ao meu Comandante.
Bem, como se pode verificar pelas linhas acima, esta primeira parte do Verão foi muito “animada”, eu diria “infelizmente animada”, esperemos que o tempo restante seja no mínimo melhor acompanhado por todos aqueles que tem responsabilidades nesta nossa área, que se tente ser proactivo, que se lembrem não só do presente e do futuro, mas também do passado, pois por norma, por muito que se tente ocultar o passado ele todo irá fazer para transparecer no futuro, como tal, nada melhor que antecipadamente conviver com aquilo que faz ser o que verdadeiramente somos e não aquilo que faz ser aquilo que queremos que os outros vejam em nós, porque num ápice esse “cenário” é destruído por algo que não conseguimos dominar, a condição humana.
Que todos tenhamos o máximo cuidado nas nossas intervenções, que só as efectuemos quando estiverem reunidas todas as condições, sendo que para isso recorro a um conceito que se aprende quando temos formação em Matérias Perigosas, “devemos ter uma acção ofensiva quando tivermos uma equipa formada, treinada e todos os equipamentos e condições de segurança necessários reunidos” caso contrário deveremos adoptar uma acção defensiva e fazer com que o sinistro não atinga maiores proporções, principalmente no que diz a vidas humanas, as nossas incluídas.
Cumprimentos,
António José M.N. Calinas
Bombeiro Voluntário