Parar para pensar em aspetos laterais à notícia é, admito, um exercício difícil e quase ausente da voraz e contínua tarefa de informar. Dei-me conta desta realidade no exato momento em que reflectia sobre o que haveria de ocupar as primeiras linhas desta sucessão de crónicas a que tive o gosto de me associar. Não sendo alguém particularmente versada nas questões de proteção civil, fui no entanto inundada pela mesma revolta que, frequentemente deve sentir a imensa comunidade de operacionais, confrontada com a vergonhosa repetição dos chamados alarmes falsos.
Acabara de chegar a Castelo Branco para concluir o leque de entrevistas para uma reportagem da SIC, quando me chega a notícia de que os bombeiros de Celorico da Beira tinham acabado de ser mobilizados para procurar uma aeronave que teria caído na zona de Maçal do Chão, uma aldeia situada nos limites dos concelhos de Celorico da Beira e de Trancoso. Longe do local, soube também que o incidente tinha obrigado ao reforço de meios da Guarda e Trancoso, pelo que a “coisa” parecia séria. Eis senão quando, algum tempo depois, na sequência de novo telefonema, desta vez para a Autoridade Nacional de Proteção Civil, recebo a indicação de que afinal, senhoras e senhores, afinal, tudo se reduzia a falso alarme. Ora, então o que temos aqui? Não queria propriamente qualificar, mas antes expressar o meu firme desapontamento diante de situações que denotam uma verdadeira falta de civismo.
Não admira, pois, que um estudo da Escola Nacional de Bombeiros (não sei em que ano nem interessa muito), referenciado pela Agência Lusa, tenha chegado à conclusão de que entre as quase 900 mil intervenções dos bombeiros portugueses registadas em dez meses de determinado ano, mais de 145 mil tinham sido produto de falso alarme.
Quem quer que tenha a ousadia e a falta de discernimento de proceder assim, obrigando a mobilizar meios para onde não são precisos, não saberá o que é ter uma urgência em casa e ser confrontado com alguma fatalidade por falta de socorro em tempo útil. Será tão difícil assim não fazer aos outros o que não queremos que nos façam a nós? Tenham paciência!
Madalena Ferreira