Um dos objetivos fundamentais da Proteção Civil é a prevenção dos riscos coletivos e a ocorrência de acidente grave ou de catástrofe deles resultantes. Para a prossecução deste desígnio, a ANPC, através da Direcção Nacional de Planeamento de Emergência, tem vindo a desenvolver um conjunto fundamental de ferramentas de apoio à decisão operacional.
O território de Portugal Continental está exposto a um conjunto de riscos – inundações rápidas, ondas de calor, vagas de frio, rutura de barragens, seca, entre outros – que resultam muitas vezes em situações de grande complexidade.
A identificação e a caracterização desses riscos e a localização das áreas expostas a eventos extremos, sobretudo onde se podem manifestar com gravidade elevada, permite definir as melhores estratégias de resposta a catástrofes ou acidentes graves, testar a eficácia dos meios e recursos existentes, perceber os constrangimentos físicos e funcionais à mobilidade e encontrar alternativas de gestão integrada.
Para aquele fim, a cartografia de risco, efetuada através da avaliação do histórico de ocorrências / fenómenos e respetivas consequências, e com base na aplicação de metodologias de análise, assume-se como instrumento de apoio essencial, porquanto permite a análise e avaliação de perigos e riscos, de forma permanente e atempada, e a subsequente difusão de alertas específicos e avisos à população que promovem a adoção de comportamentos de prevenção adequados.
As cartas de risco produzidas pela ANPC possibilitam identificar e localizar convenientemente os perigos que afetam o território, permitindo proceder ao enquadramento das dinâmicas naturais e tecnológicas com tradução territorial e que hoje podem ser integradas em múltiplos conjuntos de dados espaciais nos Sistemas de Informação Geográfica (SIG).
Num contexto de apoio à decisão, têm vindo a ser desenvolvidas e aplicadas metodologias preditivas que permitem estimar diariamente o número de ocorrências – incêndios florestais e inundações – ao nível do continente, com uma antecedência que pode ir, atualmente, até às 72 horas.
A estimativa do número de ocorrências tem como base o histórico entre eventos meteorológicos que as potenciam e ocorrências relacionadas, dando origem a uma regressão estabelecida entre as mesmas, facto que tem permitido fornecer antecipadamente, ao Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS), o número de ocorrências previstas para Portugal Continental nas próximas 24 a 72 horas.
A análise comparativa do histórico dos eventos meteorológicos com os registos dos efeitos da mesma poderá ser valioso para se estabelecerem relações futuras de causa-efeito, ou seja, se for possível encontrar uma correlação credível entre os eventos meteorológicos observados face às ocorrências registadas num software de gestão de ocorrências, o analista, possuindo valores previstos da variável meteorológica respetiva, poderá estimar um número provável de ocorrências e daí, recorrendo mais uma vez ao histórico, estabelecer patamares indicativos para os níveis de Alerta Especial definidos no Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro.
Ainda no campo do apoio à decisão foram desenvolvidas duas aplicações para avaliação e gestão de cheias com o objetivo geral de melhorar a eficiência e a eficácia da análise do risco hidrológico nas bacias hidrográficas do Tejo e Douro. A sua conceção permitiu a integração de um conjunto de funcionalidades e informações, que anteriormente se encontravam dispersas, nomeadamente de cariz meteorológico e hidrológico cujas fontes são o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Energias de Portugal. A estas, há a acrescentar a integração dos conteúdos dos diversos Planos Especiais de Emergência para Risco de Cheia, criados para as bacias do Tejo e Douro.
Este tipo de Software permite, assim, em traços gerais, facilitar o acesso a informação de base, tal como o conteúdo dos Planos – por exemplo, caudais, níveis de alerta e efeitos das cheias – melhorar a qualidade das análises efetuadas à evolução espacial e temporal dos parâmetros hidrológicos indicadores de risco – por exemplo, caudais e alturas de água – bem como antecipar, dentro do que é tecnicamente exequível, cenários decorrentes dos efeitos resultantes de situações hidrológicas extremas.
O desenvolvimento deste tipo de ferramentas de apoio à decisão pretende contribuir para a garantia de uma resposta operacional adequada e articulada, em conformidade com os graus de gravidade e probabilidade na qual se encontra suportada, designadamente, num acompanhamento, avaliação e análise permanente do perigo e da situação ou a sua previsibilidade.
Luis Sá, Engenheiro do Ambiente
Técnico Superior do Núcleo de Riscos e Alerta da ANPC
luis.sa@prociv.pt
Paulo Sacadura, Engenheiro do Ambiente
Coordenador do Gabinete de Recenseamento
Nacional dos Bombeiros Portugueses
paulo.sacadura@prociv.pt
FONTE: Boletim nº.58 da Autoridade Nacional de Protecção Civil