Como responsável pela área das comunicações na Região Autónoma da Madeira, quais são as principais dificuldades que existem na organização da rede de comunicações na Madeira?
Uma qualquer rede de comunicações, para que funcione em toda a sua plenitude, deverá ter os seguintes aspetos fundamentais:
- Uma base ou local concentrador dos equipamentos principais segura
- Estações repetidoras que permitam cobrir a área em causa
- Um sistema que dê garantias de fiabilidade da comunicação
De facto, e como se poderá perceber logo, e para quem conhece a Região Autónoma da Madeira, o principal problema está no ponto 2, na tão necessária cobertura que se torna difícil nesta orografia, de si tão bela, mas muito complicada para as comunicações.
Quais as zonas na Região Autónoma da Madeira em que existe uma maior diferenciação e quais são as razões para tal?
No seguimento do que abordei anteriormente, é inegável que a cordilheira central e toda a parte Norte da Madeira, pelas suas escarpas mais acentuadas e vales profundos, são as que apresentam maiores dificuldades numa implementação de uma rede de cobertura global. O facto de serem, por exemplo, vales profundos, levanta a necessidade de criação de mais retransmissores, maior dificuldade de cobertura, de planeamento.
E teremos de diferenciar entre cobertura de zonas habitadas e de grande densidade populacional, de zonas onde existe menos população e dispersa.
No caso particular da Madeira, onde, nomeadamente por razões turísticas, existem inúmeros percursos pedonais e levadas, mundialmente reconhecidas, a construção de uma rede tem de ser verdadeiramente abrangente, muito para além dos locais onde a população reside.
No aluvião de 20 de Fevereiro de 2012 na Madeira, houve falhas na rede de comunicação. Quais foram estas falhas e quais os motivos?
Para entender melhor a dinâmica das comunicações na Madeira, teremos de voltar um pouco atrás no tempo, e recordar que tudo nasceu a partir do Funchal, com um normal crescimento para Leste e Oeste desta cidade. Foi assim com a rede telefónica e foi assim também com outros tipos de sistemas que utilizamos no nosso quotidiano.
A passagem de toda a infraestrutura de cablagem só poderia acontecer de uma maneira, pelas pontes!
Este foi um grande problema, quer para as redes civis, quer para redes de comunicação de emergência, que de uma forma ou de outra também utilizavam infraestruturas que passavam nestes locais, que em alguns casos, pura e simplesmente desapareceram!
Numa situação de catástrofe como esta em particular, ou por exemplo, de grandes incêndios, um dos pilares de qualquer rede de comunicações, ou da nossa vida pessoal, e que é a eletricidade, também falha, porque postes caem, são destruídos, etc. E sem energia, embora existam sistemas de geradores para fazer face a falhas, por um período de tempo finito, também falham as comunicações. E em 20 de Fevereiro muita coisa falhou, também porque foi um evento de grandes dimensões, de grande abrangência territorial e por um período de tempo de impacto muito grande.
Os problemas que existiram nesta altura poderão repetir-se ou já foram corrigidos?
Nunca teremos, pelas questões enunciadas, e em parte alguma do mundo, uma rede de comunicações infalível. O que temos é uma melhoria dos sistemas e da sua robustez, com por exemplo, a criação de anéis de redundância, ou seja, com ligações por caminhos distintos para que na eventualidade de um falhar, o outro possa manter a comunicação. Mas nada nos garante que os dois não possam falhar …
Infelizmente, algumas vezes por desconhecimento, outras por sensacionalismo jornalístico, estas questões não são devidamente abordadas e quer fazer-se passar para a opinião pública que podemos controlar todas as variáveis de uma equação, mas na verdade isso não acontece. Os sistemas são falíveis, tal como nós, enquanto seres vivos também o somos. O que se garante é que são realizados estudos, testes, simulacros, que garantem uma preparação devida dos sistemas, e muito importante, uma prontidão humana, tal como aconteceu por todos os que trabalham na área das redes de comunicações, para resolver e atenuar os problemas que acontecem.
Na sua opinião, relativamente à organização das comunicações ao nível da proteção civil e socorro, estas carecem de melhorias ou já atingiram um patamar de excelência?
Respondendo de uma forma genérica, e não particularizando com um qualquer sistema, ou entidade envolvida, a rede de comunicações SIRESP, e que nasceu na Madeira para Portugal pelo nome de SICOSEDMA, é uma grande rede de comunicações tecnologicamente evoluída!
Uma rede deste tipo, digital, que permite que várias entidades a utilizem em separado, mas que em caso de emergência podem partilhar todas as comunicações, é formidável.
Foi percorrido um longo caminho, criadas infraestruturas onde necessário, partilhadas outras onde se conseguiu, colocados repetidores e mais repetidores para melhorar a rede.
Mas para que se entenda que existe sempre espaço de melhoria, nomeadamente em termos de cobertura e canais de comunicação, permitam-me exemplificar com um sistema que faz já parte de nós, e que se trata do sistema de comunicações móveis, com o qual parece já não sabermos viver….
Começou por estar nos grandes centros urbanos, e foi alargando a sua área de cobertura, para estarmos neste momento a criar células para cobrir interiores de edifícios. E a rede está em constante evolução, porque diariamente se detetam áreas onde é necessário cobrir melhor, para satisfazer o cliente.
Também nos sistemas de comunicação de emergência, como em qualquer atividade humana, teremos sempre espaço para melhorar e crescer! Haja disponibilidade financeira e mental para tal.