Muito se tem dito sobre a crise que agora se abate sobre nós. Nesse processo penso muito nas nossas associações e corpos de bombeiros ciente da necessidade de, a esse nível, ser imperativo fazer as abordagens e encontrar as saídas que salvaguardem a sua integridade e função social. E, nesse âmbito, penso que não podemos deixar passar as oportunidades para suscitar o debate sobre a sua viabilidade mas, acima disso, as condições para que possam encontrar o futuro com sustentabilidade e ainda maior razão de ser para fazer face aos desafios que a própria sociedade vai lançando.
Nesse debate não percamos o hábito de dizer que existimos, que estamos vivos e que queremos continuar a sê-lo. Não vá alguém esquecer-se e pensar de forma asséptica que nos tornámos apenas números. Pensar, ser e estar, só por si, é uma forma muito directa de manifestação. Não abdicamos do nosso papel na sociedade e da missão que te estamos legitimamente investidos. Todos os sabem mas na voragem da crise é sempre bom lembrá-lo não vá esquecerem-se disso.
Não nos revemos em qualquer modelo de análise que passe pelo tão falado tubo de ensaio ou, de modo mais geral, por um qualquer modelo de experimentalismo social e económico.
Nada é imutável mas a mudança, só por si, também não justifica nem explica tudo. E uma qualquer crise, independentemente do alcance e grau de incidência, também não pode ser expediente para justificar e impor aquilo que o diálogo social ainda não dissecou, não interiorizou nem decidiu aceitar ou mesmo liderar. As mudanças saídas dos livros dificilmente poderão ultrapassar as mudanças que a vida, a experiência e o bom senso naturalmente geram.
Num processo de mudança, inclusive por razões ditadas pela crise, importa dar espaço ao diálogo, ao tempo de analisar mas também ao tempo para decidir. Não se trata de defender o diálogo para empatar as soluções. Trata-se de defender o diálogo para dirimir, elencar, validar e graduar as várias soluções.
Se assim não for, equacionando à partida as diferentes terapêuticas e os correspondentes remédios, poderemos estar a dirigir-nos para um beco sem saída onde a teimosia e a intransigência em volta de uma só terapêutica e da aplicação de um só remédio ou conjunto redutor de remédios podem matar o doente ou, como também se diz, deixar ir o bebé na água do banho.
Ao que se sabe, foi feita uma análise aturada das centenas de fundações existentes em Portugal. Agora anuncia-se idêntica operação para as associações em geral. Nada a opor sobre isso se servir, não só para poupar recursos mas acima de tudo para optimizá-los e para sublimar, demonstrar e divulgar quem faz bem. A abordagem dessas questões, apenas na lógica de avaliar o que o Estado gasta em apoios surtirá o seu efeito, mas importa que o resultado desse trabalho seja mais rico e esclarecedor sobre o que cada um faz na sociedade.
Por isso, renovo a importância e a necessidade de, a par da avaliação da panóplia de fundações e associações, importa dar o conhecer o seu trabalho e demonstrar a descriminação positiva que nessa área importa fazer. Para isso, sem dúvida, é preciso ter coragem mas também ter o sentido da justiça e do rigor. Valorizar o que é bom é fundamental. Os bombeiros não temem esse juízo. Mas quem o fizer depois, porventura, deixará de ter razões para os tratar como até aqui.
Rui Rama da Silva