A verdade incomoda: só nos lembramos dos bombeiros quando precisamos deles. Quando o fogo já consome, quando a vida está por um fio, quando o acidente paralisa uma qualquer estrada nacional, aí sim, lembramo-nos. Ligamos o 112 com a urgência de quem exige um milagre. E eles vêm. Sempre. Sem perguntar a cor da pele, o saldo bancário, ou a sua história de vida. Simplesmente vão e cumprem.
Mas fora dos momentos de emergência, onde está esse reconhecimento? Onde está a preocupação em saber se o quartel tem condições, se o equipamento é suficiente, se têm um uniforme digno ou combustível para a próxima saída? Simples: não há reconhecimento. Porque a maioria só valoriza quem salva quando está em perigo. E isso diz muito mais sobre nós enquanto sociedade.
Vivemos num país onde se bate no peito para exigir socorro, mas onde poucos batem à porta de um quartel para perguntar: “Em que posso ajudar?” O voluntariado, que devia ser uma força social ativa, é visto por muitos como um passatempo de quem “tem tempo a mais”, quando, na verdade, é o que sustenta a resposta a milhares de emergências todos os anos em Portugal. E essa falta de cultura de compromisso é uma vergonha coletiva.
Os bombeiros não são super-heróis de banda desenhada. São pais, mães, filhos, colegas… São profissionais que muitas vezes não recebem sequer o mínimo que a dignidade exige. São voluntários que arriscam a vida enquanto o país dorme, e que muitas vezes trabalham com o mínimo, mas dão o máximo.
Está na hora de mudar. De fazer parte da solução e não apenas dos aplausos tardios. Porque quando o telefone tocar e o desespero bater à porta… os bombeiros vão continuar a ir. A questão é: estaremos nós, como sociedade, à altura de quem dá tanto, por tão pouco?

