As associações humanitárias de bombeiros voluntários são um património muito importante da nossa história colectiva. São inequivocamente instituições de base social. Muitas delas nasceram de reiteradas conversas de amigos ou conhecidos, no café, na botica ou em qualquer outro espaço local.
Primeiro, conversas informais, sem hierarquia entre os falantes, simples debate exploratório dos consensos e das vontades dos próprios, dos seus grupos sociais, famílias ou círculos de amigos. Depois, com o formalismo da época, e também o voluntarismo de então, aos amigos e conhecidos iniciais juntaram-se muitos mais amigos e conhecidos e tornaram-se os associados com base nos quais surgiram as associações. Na maior parte dos casos, nasceram primeiro as associações e, no momento seguinte, os seus corpos de bombeiros, mas o objectivo inicial foi sempre chegar à segunda etapa o mais depressa possível.
As associações nasceram de um misto de necessidade e sonho. Necessidade fundada no desenvolvimento das comunidades locais e na vontade de alcançar novos patamares de bem-estar. Sonho e muito trabalho consequente em reunir boas vontades, recursos e sinergias para aquele objectivo comum.
Entre a necessidade e o sonho assim foram crescendo as associações. E, hoje, em muitos casos, passado mais de um século, a necessidade e o sonho mantém-se, adequados às novas realidades mas, na essência, no mesmo sentido e com a mesma determinação do passado.
Quem não acreditar nem entender isso, poderá ser um excelente dirigente ou responsável operacional de uma qualquer outra colectividade ou associação local, mas não terá condições para gerir uma associação de bombeiros. A matriz de uma associação de bombeiros distingue-a sempre das restantes instituições. Há um elemento distintivo entre elas que marca a diferença, eleva o nível de responsabilidade e de compromisso perante a comunidade e perante si próprios. A diferença está no facto de, independentemente de tudo o que se passe fora ou dentro da instituição, a comunidade e os próprios alguma vez admitam pensar encerrar as portas nem que seja por minutos.
Numa outra qualquer associação todos lamentarão que isso aconteça, mas poderão compreender as eventuais razões e os motivos para isso, mas quando se trata de bombeiros a opinião e a atitude divergem claramente não aceitando em tempo algum qualquer suspensão.
Esse entendimento generalizado dá-nos responsabilidade acrescida. Mas também assegura-nos o reconhecimento, o respeito e a admiração da comunidade, mesmo que nem sempre demonstrada ou evidenciada como se desejaria.
Gerir e chefiar associações de bombeiros implica, por tudo isso e muitas mais coisas, querer e saber vestir a camisola. E, depois, muito bom senso, sensibilidade, frontalidade, determinação, mas sem perder a capacidade de diálogo. Porque, sem associados nem bombeiros não haverá associações humanitárias de bombeiros voluntários de bombeiros.