Falar dos maiores desastres provocados pelo homem é difícil, sobretudo pelos inúmeros critérios que poder-se-iam considerar para determinar tal facto.
Antes de se proceder à identificação de alguns dos piores desastres provocados pelo homem importa referir que para além destes, há os desastres naturais. Há uma grande diferença entre estes dois, os desastres naturais ocorrem em áreas que são sugestíveis de vulnerabilidade, uma vez que estes são causados por mudanças naturais. Por outro lado, os desastres provocados pelo homem são influenciados por seres humanos, no qual muitas vezes, são resultado da negligência e do erro humano. Incluem-se nestes, os riscos tecnológicos, os riscos e perigos sociológicos, de transporte, entre outros.
Neste artigo, aquando a identificação de alguns dos piores desastres exclui-se, a perda de vidas provocadas pelas guerras, atos de terrorismo e acidentes com meios de transporte, considerando apenas aqueles que tiveram maior efeito sobre as pessoas e o meio ambiente.
Citando-os por ordem cronológica, descrevo:
1940 – Lixos tóxicos do Love Canal (Estado Unidos)
Na década de 1940 surgiu um cheiro estranho envolto na área em torno do Love Canal, perto de Niagara Falls. Os moradores começaram a notar uma infiltração estranha nos seus quintais e as pessoas começaram a adoecer. Além disso, muitas mulheres começaram a ter abortos espontâneos e dar à luz bebés com defeitos congénitos. Após inspeção, verificou-se que havia mais de 21 000 toneladas de lixo industrial tóxico enterrado por baixo da superfície da cidade, tendo esta sido colocada por uma empresa local.
1952 – Nevoeiro Assassino em Londres (Inglaterra)
Nessa época com a chegada da indústria, a população de Londres estava acostumada a ver neblina e a poluição do ar. No entanto, no inverno de 1952 esta poluição tomou um rumo trágico, o tempo estava frio e por isso os moradores queimaram mais carvão do que era habitual nas suas lareiras, para se protegerem do frio. A fumaça misturada com dióxido de enxofre, óxidos de nitrogénio e fuligem, deixaram Londres envolto numa nuvem negra, numa quase total escuridão. Estima-se que esta matou mais de 12 000 pessoas.
1960 – A destruição do Mar de Aral (Cazaquistão e Uzbequistão)
O Mar de Aral era um dos quatro maiores lagos. No entanto, em 1960, a União Soviética desviou as águas dos rios que fluíam para o lago, para projetos de irrigação. O mar de Aral já diminuiu cerca de 90 por cento e a devastação criada pelo sal e pelas tempestades de areia levou à morte das inúmeras plantas e a consequências extremamente negativas em centenas de quilómetros em seu redor.
1976 – O acidente de Seveso (Itália)
No dia 10 de Julho de 1976, em Seveso, Itália, um reator da empresa química ICMESA explodiu. Isto levou ao aparecimento de uma nuvem tóxica de dioxina aquando a sua libertação para a atmosfera. A dioxina é uma das substâncias mais tóxicas conhecidas pelo homem. Embora não houvesse mortes diretamente relacionadas com o acidente, muitas crianças foram afetadas por doenças de pele após o acidente.
1979 – A explosão na central nuclear de Three Mile Island (Estado Unidos)
No dia 28 de Março de 1979, em Harrisburg, um reator da Central Nuclear da Three Mile Island sofreu uma fusão parcial no seu núcleo. Embora houvesse pouca radiação libertada, o acidente tornou-se a convocação para os temores sobre a indústria de energia nuclear. Mortes de animais, mortes prematuras e defeitos nos nascimentos foram atribuídos ao acidente nuclear.
1984 – A libertação de gás pela Union Carbide (Índia)
Na noite de 02 de Dezembro de 1984, a fábrica de pesticidas Union Carbide, em Bhopal, na Índia começou a libertar gases tóxicos para a atmosfera. Mais de 500 000 pessoas foram expostas, tendo causado cerca de 15 000 mortes naquele momento. Após isso, mais de 20 mil pessoas morreram a partir de doenças relacionadas com a inalação do gás.
1986 – A explosão na central nuclear de Chernobyl (Ucrânia)
No dia 26 de Abril de 1986, na Central Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, antiga República Socialista Soviética houve uma grande explosão no qual resultou a libertação de material radioativo para a atmosfera, 400 vezes mais radioativo do que na Hiroshima. Desde o acidente, houve inúmeras crianças com defeitos congênitos, um aumento de pessoas com cancro e outros problemas de saúde. Estima-se que o desastre provocou o aparecimento de cancro, em cerca de 100 000 pessoas e ao aparecimento de uma área não-segura para qualquer atividade, incluindo a agricultura por um período superior a 200 anos.
1989 – A colisão do petroleiro Exxon Valdez (Alasca)
No dia 24 de Março de 1989, o petroleiro americano Exxon Valdez colidiu com o Reef Bligh, tendo provocado um derramamento de petróleo, com grandes consequências de longo de Prince William Sound, no Alasca. Mais de 11 milhões de barris de petróleo foram derramados ao longo das quase 500 milhas da costa e mais de um quarto de milhão de aves morreram, entre outros animais selvagens. O processo de limpeza juntou mais de 11 000 pessoas.
1991 – Incêndios nos poços de petróleo no Kuwait
Em 1991, após a invasão do Kuwait, Saddan Hussein enviou homens para incendiar os poços de petróleo, no Kuwait. Estes conseguiram colocar mais de 600 poços em chamas, tendo isto durado mais de sete meses. Os incêndios nos poços de petróleo, durante a guerra do Golfo foram considerados o maior derramamento de petróleo da história tendo-se tornando num dos piores desastres provocados pelo homem, causando imensos danos ambientais.
2003 – O Fogo de Al-Mishraq (Iraque)
No dia 24 de Junho de 2003, em Al-Mishraq ocorreu um incêndio numa fábrica iraquiana durante cerca de um mês, queimando enxofre e libertando dióxido de enxofre para a atmosfera. Como consequência disso, muitas pessoas tiveram de recorrer aos hospitais com problemas respiratórios causados pelo dióxido de enxofre, para além de uma grande destruição da vegetação e das culturas locais, resultantes das chuvas ácidas.
2005 – As explosões de Jilin Chemical Plant (China)
Em Novembro de 2005, uma série de explosões abalaram a empresa química “Jilin Chemical Plant”, matando seis pessoas aquando a sua ocorrência. Esta obrigou a evacuação em massa, ao longo de 80 km do comprimento da mancha tóxica, composta em grande parte por benzeno e nitrobenzeno (agentes cancerígenos para o homem). Esta mancha progrediu também através do rio Songhua até ao Mar do Japão, levando à contaminação da água, obrigando os governos municipais a desligar o abastecimento de água e incitar o pânico em várias cidades.
2010 – Explosão da plataforma Deepwater Horizon (Estados Unidos)
No dia 20 de Abril de 2010, no Golfo do México, nos Estado Unidos ocorreu uma explosão na plataforma de petróleo semi-submersível Deepwater Horizon que pertencia à Transocean e que estava a ser operada pela BP, afundando-se depois da explosão e após ter ficado dois dias em chamas. Neste acidente houve 11 trabalhadores que morreram e 17 que ficaram feridos. Esta situação levou ao aparecimento de uma grande mancha de óleo que se espalhou até à costa da Louisiana e a outros estados, prejudicando o habitat de centenas de espécies de aves.
Muitos mais desastres poder-se-iam enunciar, mas o importante é promover uma reflexão, por forma a aumentar o conhecimento sobre as suas ocorrências e as causas de cada um destes, e assegurar que o começo para a preparação para este tipo de desastres deve partir da consciência de cada um de nós.
Começando pela análise da extensão dos danos causados pelas catástrofes provocadas pelo homem, estas variam muito, no entanto todas elas se apresentam com custos demasiado elevados. Isto é especialmente verdade, quando se trata de intervir e recuperar face aos danos provocados.
Um outro fator, que deve ser analisado é a localização dos desastres. Este é outro fator que influencia os custos subjacentes à sua recuperação. Por exemplo, um desastre desta natureza ocorrido numa zona densamente povoada as consequências são superiores caso o mesmo ocorresse numa zona menos povoada. Ainda perante a análise deste fator, um outro exemplo é aquando a ocorrência de um desastre desta natureza, num país densamente povoado, mas desenvolvido, em que os custos resultantes desses danos são enormes, quando comparados com outros países densamente povoados, mas pobres, em que os valores aí existentes são menores, em parte e intimamente ligados aos seguros.
Analisando um outro fator, a capacidade de resposta ao evento, permite-nos considerar que o número de mortos causados por estas catástrofes, pode ser condicionada perante o tipo de país onde ocorreu o evento. Por exemplo, os países mais ricos têm mais e melhores recursos, o que lhes permitem responder com maior rapidez, quando comparados com os países mais pobres. A tecnologia desempenha um papel muito importante, na maneira de se responder e se preparar para um determinado tipo de desastre. Associado a este fator, encontra-se também o apoio financeiro.
Por estes fatores e por outros que não foi possível aqui descrever, leva a que se torne necessário identificar e avaliar sempre os riscos e assegurar respostas para cada situação específica, à semelhança dos desastres naturais. Alguns acidentes provocados pelo homem apresentam maior probabilidade de virem a incidir e por isso, traduzem-se em maiores riscos, com mais e maiores consequências negativas. Em resposta a estas situações, alguns países desenvolveram planos, por forma a minimizar o impacto que daí possa resultar, assumindo isso como um processo comum e necessário.
No entanto, importa referir que alguns dos desastres provocados pelo homem são resultado de um risco demasiado elevado, assumido pelo homem para um progresso científico. Aqui, a preparação das respostas tornam-se mais delicadas, pelas condicionantes e incertezas impostas.
Perante tudo isto, quando nos colocarem questões sobre estas situações é nosso dever saber procurar respostas categóricas, baseadas na informação existente.
Estar informado é uma exigência de todos nós, para que se possa desenvolver um bom planeamento face à intervenção aos possíveis riscos. Por outro lado, cabe-nos refletir sobre o que temos feito para nos preparar para este tipo de ocorrência.
A transposição literal de planos preventivos e de intervenção para situações de emergência, a má avaliação dos riscos, a má gestão de recursos, a má definição de prioridades, a má distribuição de funções das entidades locais, entre outros aspetos podem colocar-se como maus exemplos de situações que não deveriam existir. Como bom exemplo, coloca-se a consciência dessa responsabilidade e seriedade que algumas entidades têm vindo a assumir.
Muito ficou por dizer, restando-me apenas terminar salientando que, a redução de riscos dos desastres provocados pelo homem é da responsabilidade dele mesmo, daí que todos nós devamos assumir um papel critico, perante estas situações.
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Luís Miguel Afonso Andrade
Subchefe na A.H. de Bombeiros Voluntários Madeirenses,
Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria
e Pós-Graduado em Urgência e Emergência