
Eram 12 horas e sete minutos do dia cinco de Maio de 1986. Na estação ferroviária da Póvoa de Santa Iria colidiram dois comboios. Morreram 24 pessoas. Registaram-se 80 feridos. Foi um dos acidentes mais graves registados em Portugal, apenas superado pelo acidente de Alcafache, 8 meses antes, onde nunca se soube o verdadeiro número de vítimas. As estimativas variam entre 40 e 200 mortos.
Às 12 horas e oito minutos do dia cinco de Maio de 1986 tudo era diferente. Tudo ficou diferente. Num minuto perderam-se vidas. Um minuto que muitos não esquecerão.
Nos minutos seguintes chegou o socorro. “Mesmo sem o equipamento adequado (escasso à época), o espírito de missão de cada bombeiro, superou todas as adversidades” escreveram os Bombeiros da Póvoa de Santa Iria na sua página do Facebook, 30 anos depois. Nesta rede social, Vítor Brito afirma que foi “a mais horrenda das missões que alguma vez tive de cumprir, lembro-me como se tivesse sido ontem. Os gritos, os feridos, os mortos, as famílias e amigos na procura de informações” e realça “o espírito de equipa, coragem e disciplina que todos demonstraram no teatro de operações”.
Foi há 30 anos e ainda hoje rompe pela memória “como se fosse ontem”.
Como este há mais incidentes. As memórias que não desaparecem. As dúvidas que não se dissipam. O socorro correu bem, mas… há sempre um mas… uma angústia de querer ter feito melhor. A maioria das vezes não se sabe como, mas… morreram 24 pessoas. Pais, mães, filhos, irmãos… Não se podia ter socorrido melhor, mas…
Os bombeiros são considerados heróis. É justo. Neste caso, e em quase todos os outros, socorrem com suor e muitas vezes lágrimas… dão tudo, mas… salta à memória aquele e outros incidentes. Os gritos e a tormenta de não se ter podido fazer melhor. E nunca se consegue voltar atrás!