Falar de fogos florestais é sempre difícil e delicado quando todos sabemos a sua complexidade.
Segundo a Autoridade Nacional de Proteção Civil (2012), a origem dos incêndios florestais devem-se a várias causas. Estas têm, na sua grande maioria origem humana, apresentando causas por negligência (37%), por acidente (39%), no que diz respeito a queimadas, queima de lixos, lançamento de foguetes, cigarros mal apagados, linhas elétricas, entre outros e intencionalmente (39%).
As causas de origem naturais (1%) como trovoadas por exemplo correspondem a uma pequena percentagem do número total de ocorrências.
Face aos dados apresentados é importante considerar que, para além da intervenção propriamente dita, se abordem outras temas como, a prevenção de determinados comportamentos de risco de incêndio, a limitação de determinados atos que poderão levar ao desenvolvimento de incêndios e a compreensão das razões que poderão levar alguém a iniciar um incêndio, por forma a que, essas pessoas possam ser identificadas e ajudadas.
Esta abordagem é de grande complexidade e por isso, necessita de um grande investimento em áreas transversais que visem a melhoria dos meios de prevenção, de deteção e de intervenção dos incêndios florestais. Esta situação poder-se-á identificar através de:
– Estudos que visem esta compreensão, ao nível da prevenção, de deteção e de intervenção dos incêndios florestais;
– Planos que visem a avaliação do cumprimento de objetivos propostos para a áreas de prevenção, deteção e intervenção, descrevendo as ações e as entidades responsáveis que lhe estão associadas;
– Campanhas educativas sobre a prevenção, deteção e combate de incêndios florestais;
– Fixação de normas de segurança que permitam reduzir o risco de se desenvolver incêndios florestais;
– Disponibilização e adequação de recursos à intervenção de incêndios florestais, face às suas características específicas e distribuição dos mesmos por forma a proporcionar a cobertura da zona;
– Disponibilização de formação adequada às pessoas que têm como função o combate aos incêndios florestais;
– Aproveitamento dos recursos disponíveis das diversas forças, com especial atenção às corporações de bombeiros voluntários, que em situações de maior gravidade, podem reforçar mais facilmente, o grupo de intervenção com mais elementos, para além daqueles que compõe habitualmente o seu quadro permanente. Face à situação de crise em que o país se encontra, estas corporações de bombeiros voluntários conseguem responder às necessidades exigidas sem apresentar custos avultados, uma vez que os mesmos, estão sobretudo associados, à formação e ao equipamento distribuído a esses elementos.
Muitos mais aspetos se poderiam ainda acrescentar…
Considerado o impacto dos incêndios florestais, estes contribuem de forma geral para:
– Alterações do meio natural, por vezes de forma irreversível e do equilíbrio através da destruição de espécies singulares;
– Impactos ambientais através das emissões de gases e partículas libertadas durante os incêndios;
– Mortes e ferimentos de pessoas e animais (queimaduras, doenças respiratórias,…);
– Destruição de bens (casas, armazéns, postes de eletricidade, etc.);
– Corte de vias de comunicação;
– Riscos de deslizamento e cheias, quando sujeitas as áreas ardidas a chuvas intensas, uma vez que com a destruição da camada superficial vegetativa, os solos ficam mais vulneráveis a fenómenos de erosão e transporte provocados pelas águas pluviais, reduzindo também a sua permeabilidade.
Partindo para uma análise dos incêndios florestais, nestes últimos 10 anos em Portugal, pode-se referir que em relação a Portugal Continental, o maior número de incêndios florestais ocorreu maioritariamente nos meses de Julho, Agosto e Setembro, contribuindo para uma maior área ardida. Em relação ao período de Inverno, o número de ocorrências e área ardida não é muito significativo, comparativamente ao resto do ano. Os anos de 2003, 2005 e atualmente o ano de 2012 destacam-se como aqueles, em que houve uma maior área ardida.
Em relação à Região Autónoma da Madeira, a distribuição das ocorrências face aos períodos sazonais não é tão simétrica. Contudo, é importante destacar o ano de 2010 e atualmente o ano de 2012, como aqueles que contribuíram para a maior área ardida na região.
Face à Região Autónoma dos Açores, a humidade, a temperatura amena e a existência de clareiras nos Açores são algumas razões referenciadas para que se tornem raros os incêndios florestais neste arquipélago, em contraponto com o restante território português.
Aquando a ocorrência de um incêndio florestal, a primeira preocupação é a proteção de pessoas e bens. Por isso, perante um incêndio florestal, todas as habitações que se encontram no seu trajeto devem ser prioridade e por isso devidamente protegidas pelos bombeiros.
Aqui é importante salientar o papel preventivo da população, na responsabilidade pelo desenvolvimento e realização das ações e trabalhos de gestão de combustível. Os proprietários, arrendatários, usufrutuários ou entidades que, a qualquer título, detenham terrenos confinantes a edificações, estaleiros, armazéns, oficinas, fábricas ou outros equipamentos, nos termos do Decreto-lei 17/2009 são obrigados a proceder à gestão de combustível numa faixa, de pelo menos 50 metros à volta dessas edificações ou instalações.
Fazendo uma descrição aos incêndios que lavraram a Madeira, em Julho de 2012, estes foram ocorrendo por toda a ilha. Esta situação obrigou a que os meios de intervenção disponíveis fossem distribuídos pelas várias zonas, valorizando as zonas de maior risco para a população.
O aparecimento de novos incêndios em simultâneo, estando os mesmos dispersos por toda a ilha, a frequência e duração a que estavam sujeitos estes incêndios, por sua vez, o cansaço dos elementos que combateram os incêndios, a orografia muito acidentada do terreno, a proximidade de habitações, as condições climatéricas propícias a incêndios, para além de outros aspetos que poderiam ser também considerados, foram algumas das situações que dificultaram toda a intervenção.
Por outro lado, podemos referir que esta foi uma situação anormal, e por isso, mais difícil de prever, sobretudo quando na sua origem tiveram intenções humanas. Esta situação deve assim carecer de uma avaliação mais transversal e neste sentido, não pode ser tão reducionista.
Esta fotografia tirada de satélite e disponibilizada no site da NASA, mostra claramente as colunas de fumo a erguerem-se dos focos destes incêndios, que lavraram na Ilha da Madeira e o seu efeito negativo para o ambiente. Os fogos florestais têm sido nestes últimos anos, responsáveis por emissões significativas de CO2, o que têm contribuído para o agravamento do efeito estufa.
Numa reflexão sobre a intervenção no combate a incêndios florestais, verificamos que estão implicados imensos recursos, nomeadamente recursos materiais, tais como viaturas, equipamentos de proteção individual, ferramentas de combate a incêndios florestais e outros equipamentos específicos e também recursos humanos como bombeiros e especialistas de diversas áreas.
Por outro lado, a prevenção de incêndios apresenta-se com menos custos e minimiza todas as consequências, que estes mesmos poderiam provocar.
Assim, salvaguardo para a importância da prevenção de incêndios, para que esta possa ser também reforçada a partir dos corpos de bombeiros, e de os mesmos poderem ser envolvidos em ações de formação em escolas, centros comunitários, entre outros espaços, instruindo as crianças sobre os riscos do fogo, os perigos de brincadeiras com fogos de artifícios e balões, riscos elétricos, riscos dos produtos químicos domésticos, entre outros.
Luís Miguel Afonso Andrade
Subchefe Equiparado
na A.H. de Bombeiros Voluntários Madeirenses,
Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria
e Pós-Graduado em Urgência e Emergência