Comportamento inesperado do fogo terá separado José Augusto Dias e outro bombeiro do resto da equipa. Administração Interna abre inquérito e Miranda do Corvo decreta luto.
Terá sido pela mudança na direção do vento que o incêndio da Lousã começou a descer a encosta e separou José Augusto Dias e um segundo bombeiro dos outros membros da equipa e da viatura, da corporação de Miranda do Corvo. Impedidos de retroceder, correram para uma zona já ardida, mas onde o fumo era intenso e rasteiro. José Augusto Dias terá morrido intoxicado. O segundo bombeiro ficou ferido, mas já teve alta.
José Augusto Dias “não apresenta queimaduras e tinha o equipamento todo intacto”, disse ao JN Rui Bingre, segundo-comandante dos Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo. A causa da morte será agora apurada pelo Instituto de Medicina Legal.
Perto do chefe de equipa dos Voluntários de Miranda do Corvo estava um bombeiro de terceira classe, de 23 anos. “Queimou os pés ligeiramente”, assegurou Rui Bingre. Ontem, depois de sair do hospital, ainda foi ao quartel.
Os restantes três elementos da equipa liderada por José Augusto Dias, incluindo o motorista, ficaram “ansiosos e consternados”, mas escaparam sem ferimentos, acrescentou Rui Bingre.
O incêndio causou dois outros feridos, dos Voluntários da Lousã. Foram assistidos no hospital por inalação de fumo e já tiveram alta.
FALTA A FITA DO TEMPO
Bombeiro há 39 anos, José Augusto Dias era “talhado para incêndios florestais”, assegurou o comandante dos Voluntários de Miranda do Corvo, Fernando Jorge.
Jaime Marta Soares, da Liga de Bombeiros, assegura que nada falhou no combate ao incêndio: “Era um bombeiro experiente e muito conhecedor, mas estava no lugar errado à hora errada”.
Rui Bingre não estava no teatro de operações, mas garante que os bombeiros que já estavam no local tentaram encontrar os dois homens mal soou o pedido de socorro. Naquele tipo de situações, explicou, “o socorro é imediato, com os meios que estão no local”, mas, olhando às circunstâncias e ao fumo, “não é fácil”.
Falta saber se os esforços começaram mal o alerta foi dado. Ontem o “Expresso” dava conta de uma demora de 20 minutos – um dado que o JN não conseguiu confirmar.
“Dá tempo para acionar os dois Alfa de Cernache que colocariam 3000 litros de água cada, a somar aos helicópteros mais próximos da ocorrência: Lousã, Pampilhosa da Serra ou Figueiró dos Vinhos”, disse Carlos Silva, da Associação de Bombeiros Fénix.
A resposta a esta questão será dada no inquérito que o Ministério da Administração Interna já abriu.
FLORESTA POR TRATAR
Os dois bombeiros de Miranda do Corvo terão sido apanhados de surpresa por
uma mudança da direção do vento, causada pelo próprio incêndio. O investigador Xavier Viegas esteve no local e admite essa hipótese, já verificada em 2017, em Pedrógão.
O incêndio ocorreu num lugar de difícil acesso, com um declive acentuado e vegetação alta. “Há muitos anos que aquela floresta não é cuidada”, disse.
Bombeiro experiente
- José Augusto Dias
- 55 anos
- Miranda do Corvo
O chefe de equipa dos bombeiros de Miranda do Corvo tinha experiência
no combate a incêndios, diz Jaime Marta Soares, da Liga de Bombeiros, que trabalhou com José Augusto Dias quando estava no ativo. Era voluntário há 39 anos e motorista na Câmara, que declarou luto durante três dias. Ainda não está marcado o dia do funeral.
Duarte da Costa – Comandante operacional nacional
Num terreno muito difícil e com grande declive, poderá ter havido uma alteração de vento que levou a que o chefe José Augusto se visse na vicissitude de não conseguir sair da zona onde acabou por falecer”
Fonte: Jornal de Noticias – Alexandra Figueira e Zulay Costa