Depois das tragédias de 2003 e 2005 de má memória, quando nos diziam que estava tudo controlado, voltamos a ter mais um Verão que em termos de incêndios também está a deixar marcas negras por todo o país.
Aliás, tudo começou muito antes do Verão. No Inverno já tinham sido batidos todos os recordes de ignições e de áreas ardidas.
Mas o Verão tem sido marcante. Foi o grande incêndio do Algarve que já motivou vários relatórios, contestações e mais não sei o quê, mas o certo é que foi o incêndio que mais meios humanos e materiais movimentos nos últimos anos e onde a área ardida também foi muito significativa. Mas na mesma altura aconteceram incêndios dignos de registo em Tomar e Ourém, de onde afinal foram mobilizados meios do Norte a caminho do Algarve como se o fogo fosse já ali e se as pessoas não tivessem direito a um certo descanso para retemperarem forças.
Entretanto os incêndios, especialmente aqueles que não vêm nos mapas, esses nunca pararam nem deixaram parar os Bombeiros por todo o lado.
A certa altura trocaram-se galhardetes que em nada enobreceram os actores, mas o certo é que os problemas dos Bombeiros não foram resolvidos, antes se foram agravando todos os dias. É o que se vê e o que se sente.
O luto voltou ao seio dos Bombeiros. No dia 21 de Julho aconteceu a primeira vítima mortal de entre a grande família dos Bombeiros. Foi uma Bombeira dos Municipais de Abrantes que morreu no despiste da viatura em que seguia para um incêndio no concelho.
Depois, no inferno de Figueiró dos Vinhos, mais uma vítima mortal a lamentar, desta vez dos Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos.
Os fogos voltaram a Tomar e a Ourém, a Viseu e seu Distrito, a Coimbra e seu Distrito, a Aveiro, a Leiria e seu Distrito, a Trás-os-Montes, à Beira Baixa, ao Alentejo, enfim, Portugal esteve mesmo a arder e ainda é prematuro dizer-se que a situação tenha mesmo acalmado.
Mas o certo é que tudo indica, para além de outras razões, temperaturas, humidades e ventos, que a prevenção foi mais uma vez adiada e os resultados estão à vista. E pasme-se, pouco se fala desta falta de respeito pela floresta e pelo ambiente.
Feridos têm sido bastantes. Viaturas perdidas já foram várias.
A Instituição Bombeiros está mais fragilizada, os seus meios de combate mais desgastados, as suas finanças mais depauperadas e, em muitos locais, a esperança começa a dissipar-se.
Porém, de qualquer forma, é prematuro fazer-se qualquer esboço de balanço da época, até porque ainda virão mais dias quentes. Por isso as preocupações existem e resistem. As promessas de cortes nos apoios aos Bombeiros já foram feitas e neste tipo de promessas normalmente não há falhas. Vamos aguardar para ver. Mas não nos podemos esquecer que quem não tiver carroça, não pode prometer carradas.
Carlos Pinheiro