O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, insiste na necessidade de se instaurar um inquérito “rigoroso” às eventuais falhas no combate aos incêndios em Tavira e São Brás de Alportel e considera que o presidente da Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) é “o principal responsável” por esses erros.
“Espero que o senhor major-general Arnaldo Cruz assuma as suas responsabilidades e não atire para cima dos outros a responsabilidade de abrir um inquérito”, afirma Jaime Marta Soares, para quem esta exigência faz ainda mais sentido depois de o comandante nacional da Protecção Civil, Vítor Vaz Pinto, ter admitido este domingo à RTP que se enganou na avaliação que fez dos incêndios no Algarve.
Jaime Marta Soares acrescenta que nos últimos dias foi contactado por autarcas e comandantes das várias corporações que estiveram no terreno, dando conta de episódios de “descoordenação total” e de “planeamento demasiado extenso”.
“Um general num campo de batalha”, como aquela que mais de 1000 bombeiros enfrentaram durante cinco dias na Serra do Caldeirão, “não pode errar, porque do erro dele pode suceder um conjunto de erros que terão consequências gravíssimas”, considera. Para este responsável, “as palavras do comandante nacional são mais do que suficientes para que se instaure um inquérito”.
Ainda assim, Marta Soares sustenta que o “principal responsável” por eventuais falhas é o presidente da ANPC. “É ele que detém todo o poder de decisão da ANPC, que é uma estrutura de soberania e não pode ser gerida em cima do joelho”, afirmou.
Já ontem à noite, numa entrevista à RTP após as declarações de Vítor Vaz Pinto, Marta Soares tinha defendido que quaisquer responsabilidades por “algum desnorte” no combate aos incêndios teriam de ser imputadas aos responsáveis nacionais da Protecção Civil. Além disso, acrescentou que “toda” a estrutura dos bombeiros e da Protecção Civil deveria ser “reanalisada” ou “refundada”.
O major-general Arnaldo Cruz respondeu com um comunicado no qual manifesta “total disponibilidade e colaboração no apuramento de eventuais factos” que consubstanciem as afirmações do presidente da LBP. Mas esta disponibilidade “não chega”, diz Jaime Marta Soares.
“O serviço nacional de Protecção Civil não pode ser tratado de forma leviana nem pode cada um sacudir a água do seu capote”, afirma. O presidente da ANPC tem “o dever” de instaurar um inquérito “rigoroso” e “tirar ilações” das declarações do seu comandante nacional.
No comunicado, o major-general Arnaldo Cruz critica as posições assumidas por “entidades públicas altamente responsáveis”, por serem “pouco consentâneas com o respeito que deve merecer o esforço desenvolvido pelos integrantes do dispositivo” de combate aos incêndios.
“Ele está a querer enganar-se a ele próprio. Quem não permitiu que fosse posto em causa o esforço dos integrantes fui eu”, contesta Jaime Marta Soares, sublinhando que “nunca esteve em causa o trabalho dos bombeiros”.
O presidente da LBP, que é também presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares (PSD), garante que irá “até às últimas consequências” para que o responsável máximo da ANPC “diga a verdade aos portugueses”.
O incêndio da Serra do Caldeirão deflagrou cerca das 14h de quarta-feira em Catraia, na freguesia de Cachopo, concelho de Tavira, e só foi dominado ao final da tarde de sábado, depois de um longo e intenso combate que chegou a mobilizar mais de 1100 operacionais, 13 meios aéreos e mais de duas centenas de veículos. Nesta segunda-feira, decorrem os trabalhos de rescaldo.