1º. O país atravessa de momento grandes dificuldades económicas. De que modo este fator pode condicionar a formação em Emergência Pré-Hospitalar em Portugal?
A atual situação de crise em nada abona para a formação na sua generalidade, no entanto as restrições financeiras neste setor já não são novas, a ENB quando iniciou o seu processo formativo na área do TAS e do TAT inicialmente utilizou os seus recursos financeiros próprios e posteriormente recorreu aos fundos comunitários, existindo em alguns casos financiamento por parte do próprio INEM e da ANPC, no entanto este financiamento tem sido cada vez menor ou inexistente, principalmente pela ANPC e pelo INEM. O problema que se coloca atualmente é que os fundos comunitários estão a acabar este fato é agravado pelo INEM não querer ou cada vez mais não quer financiar a formação dos bombeiros e pela ANPC também não o fazer. É necessário compreender que a ENB também não possui recursos financeiros para assegurar esta formação, pelo menos na sua totalidade, assim, somente poderemos esperar o futuro cada vez mais difícil.
2º. Como bombeiro e formador, que modelo de formação aplicaria por forma a tentar que a mesma chega-se a toda a gente?
Como bombeiro já não posso falar uma vez que já estou afastado, no entanto com o conhecimento que possuo posso afirmar que atual modelo de formação está esgotado, e não permite a evolução da formação atribuindo mais competências apoiadas em conhecimentos técnico-científicos adequados. Na área do TAS desde 2004 que tenho apresentado propostas nos sentido de se avançar para uma formação assente num modelo de formação a distancia com recurso ao e-learning, centralizando na ENB a componente prática e de avaliação, no somente agora se vai avançar com a aplicação deste modelo à Recertificação TAS, isto é se o INEM não levantar mais problemas. O que posso afirmar é que a solução apresentada pelo INEM não serve os interesses qualitativos necessários a este tipo de formação, e o que se aproxima e que é imposto por estes vai levar a uma regressão nos conteúdos, ou seja em vez de se evoluir vai-se regredir. Lamentável é que os bombeiros tenham bons modelos de formação e que agora os substituam por esta imposição do INEM, somente porque este está escudado de uma Lei Orgânica construída a sua medida e perante a INERCIA da ANPC e da estrutura de representativa dos bombeiros portugueses. Eu sei que é uma boa bandeira política e de Show Off vir-se a publico dizer que o modelo vai permitir a descentralização da formação, mas o que não se diz é que o modelo imposto pelo INEM somente vai servir para alimentar o setor privado, transformando o curso TAS num mero curso de primeiros socorros melhorado que vai dar origem a que o pré-hospitalar venha a ser feito por elementos sem as competências e capacidades que este exige, ou seja, mascara-se o incumprimento da lei ao colocar no terreno muitos elementos com certificação TAS( cartões). Estou convicto que chegou a altura de os Bombeiros seguirem o seu caminho separadamente do INEM, não é o fato de terem uma formação certificada por este instituto que vão prestar melhor socorro, a formação que estes possuem já adequado e qualitativamente superior a que o INEM fornece e que agora impõe. Somente desta forma poderemos avançar com modelos de formação que permitam uma evolução do Bombeiro nesta área, uma vez que mantendo a atual situação o INEM vai sempre tentar impedir a nossa evolução
3º. A lei prevê que a tripulação de uma Ambulância seja constituída no mínimo por dois elementos. Esta lei não vai contra todos os procedimentos de socorrismo?
Claro que vai, não é possível prestar os procedimentos de emergência, principalmente na vítima grave com dois elementos, fator agravado com a limitação das competências existentes.
4º. Na sua opinião, o que poderá estar na origem da ocultação do documento elaborado pela ANPC, sobre as ilegalidades dos corpos de bombeiros relativamente à emergência pré-hospitalar?
Não tenho a certeza que o documento tenha sido ocultado, fui consultado na sua elaboração, julgo que serve como referência mas não pode ser assumido como conclusivo, uma vez que este assenta em inquéritos realizados ao Sr. Comandantes em que a informação resultante carece de validação.
5º. No país existem aproximadamente 25.000 mil bombeiros no ativo, que número de elementos com formação TAS considera ser necessário para assegurar o número de ocorrências diárias nos corpos de bombeiros?
Se estivermos a falar de profissionais cada CB deveria ter 4 elementos por ambulância de socorro agora se tivermos a falar de voluntários não podemos avançar com números, enquanto não se definir uma política de fixação destes após a sua formação, afirmar que são necessários X elementos TAS é demagógico. Acresço a este ponto o seguinte: Não existe falta de formação nem TAS nem TAT, o que falta são incentivos que permitam as pessoas formadas exercerem a sua atividade, bem como, não pode ser qualquer um a obter este tipo de acreditação, terá de haver mecanismos de responsabilização dos Comandantes em primeiro lugar e dos Formandos em segundo que possibilite que o elemento que frequente a formação venha a ser realmente utilizado na função para a qual se formou. Não se pode continuar a ministrar este tipo de formação para CB´s que depois não requalificam os seus elementos, ou a elementos somente porque é “giro” ou “fixe” ter mais uma “bolacha” na farda. Basta tentar saber aonde estão os cerca de 4000 tripulantes formados nos ultimos anos, basta ver que a ENB em 15 anos formou perto de 2500 novos TAS, contra os 1600 que o INEM tinha formado em 20 anos, a pergunta que fica é: Aonde eles andam?
Formador
Nelson Batista