Neste dia de São Valentim o portal bombeiros.pt decidiu partir em busca de casais bombeiros dispostos a partilhar connosco a sua história de amor. Foi nos distritos da Guarda e de Évora que encontrámos dois exemplos das muitas histórias de amor que existem por todas as corporações deste país.
O segundo testemunho chega-nos do Alentejo, mais propriamente dos Bombeiros Voluntários de Estremoz, no distrito de Évora, onde a nossa equipa encontrou uma história de amor com 22 anos.
Mónica e Joaquim Niza, de 37 e 43 anos respectivamente, conheceram-se em setembro de 1993 numa Herdade no Concelho de Estremoz, durante a execução de uma infra-estrutura necessária para a vinicultura local onde Mónica trabalhava na altura, desde este dia os seus caminhos cruzaram e nunca mais se separaram. Mónica e Joaquim casaram a 5 de dezembro de 1994 e tiveram uma filha, a Cristina actualmente com 21 anos.
Nenhum dos dois era bombeiro até esta altura, nem conheciam nenhum soldado da paz.
Foi no início do ano de 1998 que a Mónica, sozinha, decidiu ingressar nos bombeiros.
“Como tinha algum tempo livre juntou-se o útil ao agradável, entrei no Corpo de Bombeiros de Estremoz sem conhecer ninguém dos elementos que já cá se encontravam. O que me levou a ingressar nos bombeiros foi ver o trabalho que eles faziam e ver que ajudavam e socorriam as pessoas.”
No inicio, Joaquim não gostou muito da decisão de Mónica ingressar nos bombeiros, mas Mónica foi determinada na decisão e continuou a sua missão de ajudar o próximo.
“Não lhe agradava a ideia de eu me ausentar de casa nas horas vagas quando podia estar com a família e a recuperar as energias gastas na semana de trabalho.”
Mónica sempre que chegava a casa contava a Joaquim as inúmeras histórias passadas em serviço aguçando desta forma a sua curiosidade sobre o mundo dos bombeiros. Até que um ano depois, Joaquim ganhou coragem para também ele ingressar nos bombeiros.
Actualmente são os dois bombeiros de 1ª, Joaquim é voluntário e Mónica é profissional há cerca de 10 anos como operadora de central. Cristina Niza, actualmente bombeira de 3ª, seguiu os paços dos pais bem cedo, ingressando na mesma corporação com 14 anos como infante.
“Filho de peixe sabe nadar, e a nossa filha como cresceu a ver os pais fardados acabou também ela por querer ser bombeira.”
Questionados sobre a forma como encararam a escolha de Cristina em seguir os passos dos pais, Mónica responde:
“Nunca é fácil ver os nossos filhos saírem de baixo da asa dos pais, mas quando se mantêm por perto a coisa torna-se mais suportável. Mas é muito gratificante ver que a nossa filha segue os passos dos pais, que se interessa por voluntariado e tem gosto por ajudar os mais necessitados. Ver que não falhámos na sua educação, que a educámos de uma forma cívica no meio de uma sociedade que se revela tão egoísta.”
Para além dos desafios de uma relação normal, que desafios tiveram de ultrapassar enquanto casal de bombeiros?
“Quando um casal se envolve em qualquer que seja a atividade juntos há sempre obstáculos que tem que ultrapassar e na atividade dos bombeiros também não é diferente. No nosso caso sempre tentámos gerir as coisas da melhor forma, ser profissionais e responsáveis de modo a que não interfira nas ocorrências e em todas as atividades que nos envolvemos. Dentro da atividade bombeiros fazemos o possível para não misturar as relações de parentesco que temos para não haver pensamentos nas outras pessoas envolvidas que temos que ser tratados de forma diferente por sermos família. Embora porém concorde que nem sempre seja fácil.
Somos um casal igual a tantos outros mas com a grande diferença de sermos soldados da paz. Damos de nós o pouco que temos aos que nada têm. Temos ao longo do tempo superado os nossos problemas e obstáculos normais da vida, a conjugação da vida profissional com a vida particular e a educação da nossa filhota.”
Na vossa perspectiva o que mudou nos bombeiros desde que entraram até à atualidade?
“Muita coisa mudou ao longo dos anos e já são alguns, a maior diferença que noto é na proteção individual, quando entrei para os bombeiros só existia uma farda que servia para tudo e em alguns casos nem botas existiam, hoje em dia temos fardamento de proteção individual para tudo o quer seja fogos urbanos ou industrias, fogos florestais, desencarceramento ou saúde. Também não podia deixar de referir a grande diferença existente nos veículos, mais funcionais e bem equipados para uma melhor prestação no socorro.”
Mónica toca ainda num ponto muito importante, que envolve toda a sociedade,
“Ao longo dos anos e no dia-a-dia a lidar com a população nota-se uma grande carência social, muitos idosos solitários e isolados com grandes carências tanto a nível financeiro como a nível afetivo, a sociedade mudou muito tornou-se mais cruel e egoísta e quem paga esta dura fatura são os mais carenciados.
Noto muito em certos casos, nas pessoas quando nos vêm chegar às suas casas e o brilho nos olhos aparece sabem que um amigo se aproxima, nós soldados da paz hoje em dia temos de desempenhar alguns papéis em simultâneo, somos socorristas, amigos, ouvintes, aconselhadores e esclarecedores, temos que desempenhar por momentos o papel do familiar ausente. É lamentável que a sociedade ao longo do tempo venha a desprezar os valores humanos.”
Ficamos assim com o testemunho da Mónica e do Joaquim, aos quais o Portal Bombeiros.pt agradece a amável colaboração.
Durante o dia de hoje, partilha connosco a tua história! Envia o teu testemunho e as tuas fotografias para redacao@bombeiros.pt