
Destinados inicialmente a fins militares, posteriormente utilizados em missões científicas, os aviões não tripulados, também conhecidos como “drones” popularizaram-se, desempenhando hoje numerosas funções, nos mais diversos âmbitos, alcançando um nível tecnológico e uma sofisticação que cresce ao mesmo ritmo que o seu custo diminui.
As potencialidades destes equipamentos são enormes, faltando ainda explorar devidamente muitas delas, algo que apenas acontecerá após a sua maior disseminação, o que implica não apenas um aumento das respectivas funcionalidades, mas também a existência de operadores em número e qualidade suficiente para tirar partido das crescentes capacidades e da maior complexidade destas aeronaves não tripuladas.
Assim, começa a fazer todo o sentido de o seu uso se expandir a outros fins nomeadamente na área do socorro, onde podem complementar os recursos atualmente disponíveis, melhorando substancialmente a sua eficiência, sobretudo através de uma maior capacidade de recolha de informação e da sua transmissão em tempo real.
Não é objectivo descrever quantitativamente características, nem quais as especificações adequadas a cada missão ou função, mas sobretudo alertar para algumas das possibilidades deste tipo de aeronave e o respectivo enquadramento em nalgumas soluções no âmbito da proteção civil, mas pretendemos, noutro texto, abordar de forma mais técnica e funcional as características a ter em conta na seleção de um modelo que possa servir de exemplo.
A adequação do “drone” às condições em que irá atuar é essencial, sendo óbvio que é inútil investir num modelo que não cumpra os requisitos das missões que irá desempenhar, numa tentativa vã de realizar alguma poupança a qual se irá traduzir não apenas na inutilidade da aquisição e desperdício de verbas, como na ideia de que existem meios que, efetivamente, não têm utilidade prática.
São características essenciais a capacidade de operar sob condições meteorológicas adversas, embora sabendo que, tal como sucede com qualquer aeronave, estas podem condicionar, limitar ou mesmo impedir a sua utilização, bem como a capacidade para operar sobre terrenos difíceis, nomeadamente aqueles que, pela sua configuração, potencia factores meteorológicos, como chuva intensa, ventos fortes ou cruzados ou correntes de ar ascendentes ou descendentes.
É de notar que, atualmente, um “drone” com capacidade para utilização profissional pode ter um preço que começa
nos dois milhares de Euros, podendo acrescer perto de um milhar em acessórios que potenciem a sua utilização, como baterias adicionais, câmaras de diversos modelos, sistemas de comunicações mais eficazes e com maior alcance, para citar alguns dos que entendemos serem essenciais.
Obviamente, acresce o custo da formação e qualificação de operadores, algo que consideramos como essencial para tirar partido deste tipo de equipamento, sendo um investimento a ter em conta e uma excelente opção em termos de oportunidades profissionais num sector que terá uma expansão extremamente rápida.
Um “drone” nesta gama de preço, devidamente operado, pode potenciar substancialmente uma equipa que patrulhe uma zona florestal acidentada, fornecendo imagens a partir de uma posição privilegiada ou evitando uma deslocação morosa até locais fora da linha de vista, sendo facilmente transportado e controlado a partir de uma viatura ligeira a qual carece de adaptações substanciais.
O mesmo tipo de aeronave pode fornecer imagens em tempo real de uma frente de fogo, permitindo visualizar em profundidade e revelando informações que, de outra forma, estariam inacessíveis, podendo as mesmas ser passadas de forma imediata a outros meios, potenciando a sua intervenção e aumentando a segurança das missões.
Também a nível de busca e salvamento, este tipo de aeronave não tripulada se tem revelado eficaz, oferecendo uma perspectiva aérea sobre zonas irregulares ou de difícil acesso, como encostas ou paredes verticais viradas para o mar, permitindo a detecção de um desaparecido através de câmaras, que podem ser térmicas, e mesmo largar pequenas cargas, como um equipamento de comunicações ou localização, como forma de estabelecer contacto e georreferenciar a posição exata.
Em locais de maior risco, como junto de falésias ou encostas rochosas, onde uma busca adquire especial complexidade e envolve maiores riscos, ou perante situações consideradas como imprevisíveis, como em locais onde exista perigo de explosão, os “drones” serão sempre uma opção a ter em conta, evitando que o reconhecimento seja efetuado através de missões arriscadas ou que as mesmas sejam adiadas até a situação estar estabilizada, do que podem resultar prejuízos e danos substanciais.
A integração de aviões não tripulados como parte de uma estrutura complexa, pode obedecer a diversos critérios, que dependem não apenas das capacidades e utilização de cada modelo, mas do modelo organizacional e funcional da entidade que vai gerir este tipo de equipamento e o pessoal a eles adstrito, mas a flexibilidade e polivalência de uso dos “drones” só terá o devido retorno quando a sua gestão segue os mesmos pressupostos da sua utilização.
Assim, uma gestão centralizada de recursos, efetuada a nível nacional, conjugada com uma operação delegada, destacando as unidades para estruturas de nível inferior como complemento dos recursos próprios, operando com autonomia, devidamente integrados e complementando os meios locais, surge como a forma de maximizar o potencial deste tipo de meio aéreo, enquanto familiariza os operacionais com esta tecnologia recente e ainda pouco conhecida.
A atribuição deste tipo de meios, em termos de gestão operacional, ao nível distrital, ou mesmo local, confere um maior grau de autonomia, aumentando substancialmente a capacidade do comando como resultado do tipo de informações recebido, diminuindo erros resultantes de previsões ou estimativas baseadas numa visão parcial do teatro de operações e em informações fraccionadas em função da capacidade de observação no terreno.
A existência de “drones” adstritos a missões de socorro, independentemente da forma de integração funcional, mas cujas tarefas podem incluir missões em áreas completamente distintas, como a nível do ordenamento do território, da delimitação de zonas ou outras que sejam atributos das autarquias, podem resultar na criação de postos de trabalho qualificados e na rentabilização de recursos existentes, substituindo dispendiosas contratações externas que tendem a representar um fraco valor acrescentado para a estrutura em que se integram temporariamente.
Devemos acrescentar que em zonas do Interior, cada vez mais desertificadas, a criação de empregos e mesmo de polos de formação em áreas tecnológicas, fruto de iniciativa privada, pública ou autárquica, pode não apenas inverter a atual tendência e o devastador aumento das assimetrias regionais, mas também atrair novos habitantes, mais qualificados e investimentos vindos do exterior.