O concelho de Cascais, ao longo da sua história tem sido marcado por um conjunto de iniciativas no domínio do socorro às populações, muitas delas pioneiras, que atestam a capacidade, o espírito empreendedor e entusiasmado das suas gentes e, em particular, dos seus bombeiros.
Já passaram 22 anos sobre o arranque em Cascais da viatura médica de emergência (VMER) então designada por VMIR. Durante muito tempo as tripulações que garantiram o seu funcionamento eram constituídas por bombeiros e médicos, muitos destes, também, ligados a associações de bombeiros.
Foi um sonho de um grupo muito alargado, do qual também tive a satisfação de fazer parte, concretizado em poucos meses, com muito denodo, particularmente para vencer o imobilismo de uns e também a feira das vaidades de outros.
Esta viatura médica descentralizada foi a primeira do País. Seguiu-se, meses depois, a do Hospital S. Francisco Xavier. As mais de quatro dezenas que agora existem espalhadas pelo território continental e insular beberam tudo dessa experiência pioneira. Experiência que desbravou novas atitudes e novas formas de intervir, com resultados muito palpáveis no sucesso da prestação do socorro no concelho de Cascais e vizinhos.
Essa postura e acção, em que os bombeiros se envolveram também muito, constituiu, sem dúvida um salto qualitativo, não só de conhecimentos mas, especialmente de prática, de saber fazer, como até então não tinha acontecido no País.
Até ao aparecimento da viatura médica de Cascais, fruto da parceria entre o INEM, o Hospital de Cascais e a Câmara Municipal, com o apoio dos Bombeiros de Cascais, apenas existia uma do género, em Lisboa e sediada no próprio INEM. Havia sido tentada uma experiência, mas gorada, no INEM/Porto.
A VMER de Cascais, até ao presente, continua a ser uma experiência inicial única já que, fruto da parceria referida, o INEM participava com os consumíveis e equipamentos, o Hospital suportava os custos com os médicos e a Autarquia os custos com os tripulantes, o combustível e a manutenção da viatura. Hoje, as regras de funcionamento são precisamente as mesmas das restantes VMER, fruto de contratualização directa entre os hospitais e o INEM.
À data do arranque da viatura, Arlindo de Carvalho era o ministro da Saúde, Georges Dargent o presidente da Câmara Municipal de Cascais e os responsáveis clínicos pela experiência bem sucedida eram Manuel Costa Matos e Carlos Quaresma.
No início, o grupo de clínicos e tripulantes incluía muitos bombeiros de Cascais e Sintra. Alguns dos médicos do início ainda hoje garantem a VMER de Cascais.
Perante as dificuldades do INEM em satisfazer uma nova viatura em condições houve que, através dos Bombeiros, apelar à Fiat Portuguesa, com sucesso, para a oferta de um “Lancia Delta HF”, que substituiu o velho e cansado “VW Golf” com que o serviço arrancou.
Foi, sem dúvida, uma aventura conjunta muito gratificante para bombeiros e médicos envolvidos, vencendo reservas e preconceitos e suscitando novas sinergias. Trouxe o banco de urgência à rua e permitiu também, sem dúvida, operar milagres.
Todos os bombeiros do concelho, os médicos e os outros técnicos que trabalharam e ainda trabalham na VMER de Cascais são credores do reconhecimento e agradecimento das populações. Um obrigado mais alargado a todos os bombeiros portugueses que, mesmo que nem sempre com o devido e merecido destaque público, fizeram e continuam a garantir a prestação do socorro pré-hospitalar, seja de moto próprio ou colaborando com o antigo SNA e agora INEM. Sem os bombeiros, sem dúvida, o INEM seria uma estrutura qualificada mas sem a expressão que hoje consegue ter.