Não tem sido um Verão de pasmar, de encher o olho, de bronzear, de muitas idas às praias… imaginem que até no sul do país as águas mornas/quentes de outros verões desapareceram este ano. Com mais ou menos graus, o calor deste verão tem sido esquisito, excepções à parte que apenas confirmam a regra. Aliás, excepções que não o seriam se tivéssemos tido, até à data, um Verão “normal”.
Para além das temperaturas inconstantes, da incerteza quanto ao “brilhar” (ou não) do sol, a incapacidade de planear e programar, atempadamente, as férias ou as simples idas à praia, já para não falar da confusão que roda em torno da problemática do vestuário e calçado, há ainda um outro dado que torna este Verão fora do rotineiro e normal dos últimos anos. Neste caso, ainda bem. Tem havido menos incêndios, menos casos de acidentes envolvendo bombeiros nos combates às chamas. Ao menos valha-nos isso neste Verão.
Não quero com isto dizer que, apesar de tudo, tem sido um ano calmo. Aliás, ainda recentemente, os distritos da Guarda e, particularmente, de Viseu, têm dado provas da necessidade de estado de alerta permanente por parte dos Bombeiros e Protecção Civil. Mas a verdade é que o número total de incêndios e de área ardida tem sido, significativamente, mais baixo que nos dois/três anos anteriores.
Do ponto de vista político e estrutural é sabido que existiu um acréscimo de investimento e de planeamento por parte do Governo, da Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC), das Corporações de Bombeiros e das suas Instituições Associativas, mesmo que isso signifique ainda muito caminho a percorrer e muito trabalho ainda por desenvolver. Face às dificuldades vividas no sector, é certo que por muito que se faça saberá (justificadamente) sempre a pouco. Mas houve este esforço, é importante reconhece-lo, tal como o fez publicamente, por exemplo, o ainda líder do Partido Socialista, António José Seguro, quando da visita que realizou à sede da ANPC. Também é claro que uma maior fiscalização e regulamentação legislativa sobre a manutenção e protecção florestal tem contribuído para um menor número de incêndios. Mesmo assim, restará sempre a dúvida, apesar dos recursos, investimentos e fiscalização: se o Verão tivesse sido “normalmente” quente teríamos o mesmo cenário e as mesmas circunstâncias?
Por último, que não em último. Infelizmente, pelas piores e, normalmente, trágicas razões, os bombeiros são, ou têm sido, nos últimos anos os principais protagonistas do cenário dos incêndios de Verão. Os elevados números de casos de morte e de ferimentos graves ocorridos, por exemplo, no ano passado, passaram a ser capa de jornal, abertura de noticiário ou títulos de notícias. Mas este ano, felizmente pela ausência de trágicas realidades, os bombeiros praticamente desapareceram das principais notícias sobre os, também felizmente, menos incêndios que têm ocorrido. É uma boa notícia? Se atendermos ao facto de não ter havido perdas humanas e ferimentos graves nas corporações dos bombeiros, sim… é uma excelente notícia. Mas repita-se… é uma boa notícia? Excluindo a realidade da primeira resposta… Não. E não porque os bombeiros continuam a ser os principais protagonistas da triste e vergonhosa realidade dos incêndios de Verão. Porque se é verdade que houve mais investimento, planeamento, aumento de recursos e maior fiscalização, é pena que não se refira que os Bombeiros Portugueses estão mais bem preparados, mais eficientes, continuam dedicados e destemidos na protecção dos bens e das pessoas, do próprio devastar ambiental nacional. E por isto, os bombeiros mereciam continuar a ser notícia e a serem os protagonistas de mais um Verão. Nem só de lágrimas e tragédia se faz a história e se vive o dia-a-dia.
Pessoalmente continuarei a dizer: “Muito Obrigado”. Por irem e voltarem sempre…
Miguel Pedro Araújo
(Fonte: Debaixo dos Arcos – publicado na edição de hoje, 20 de agosto, do Diário de Aveiro)