
Alexandre Carvalho tem ganhado protagonismo no seio da luta sindical e na defesa incansável dos Sapadores Florestais portugueses. Mas quem é este homem e de onde veio? O Portal Bombeiros.pt mostra um pouco do percurso de um anónimo que quer apenas uma coisa: dar tudo em nome de uma causa justa!
Cresceu na Guarda e foi por lá que se começou a interessar por política e pela defesa das causas em que acreditava. Na sua juventude, começou por assumir a militância e cargos políticos na Juventude Comunista Portuguesa, onde coordenou o trabalho político nos Distritos de Viseu e Guarda. O percurso natural dentro do partido levou-o para a Direção Regional do Partido Comunista Português (PCP) de Viseu e do seu Executivo. Neste período, admite que aprendeu “a viver e a lutar pelos direitos do proletariado e dos povos, princípios ideológicos que ainda hoje me acompanham”.
Desde 2019 que se afastou do PCP. Apresentou a renúncia a todos os cargos e pediu a desvinculação de militante em janeiro de 2019 por entender que não tinha mais capacidade para continuar a exercer a sua militância.
A decisão de mudança da vida deu-lhe a conhecer uma nova nova causa.
Diz que entrou nos “Sapadores Florestais assim por mero acaso”. Um concurso, naquela altura aberto na CIM Viseu Dão Lafões, levou-o a desistir das funções de Segurança Privado. O chamamento para este universo da Proteção Civil e da Proteção da Floresta já o tinha atraído para os Bombeiros Voluntários de Viseu, mas a necessidade e a exigência que o trabalho de então lhe pediam levaram-no a desistir. Foram tempos difíceis, pois a saída da Cruz Vermelha Portuguesa (uma missão que abraçou durante anos) e o facto de ser incomportável conciliar o trabalho com a vida de Bombeiro, levaram-no a perder parte daquilo que sempre foi: um homem de causas. Ele próprio admite: “Sempre fui um apaixonado por me juntar a causas e quando acredito nelas dou tudo o que tenho, mesmo que isso signifique sacrificar a minha vida pessoal e familiar.
25 de Março de 2019.
Tem esta data gravada nos olhos. Mudou de trabalho e abraçou uma nova causa neste dia. Entrou para a Brigada de SF 1-165 da CIM Viseu Dão Lafões. “Eramos 14 operacionais, eu talvez o mais maçarico e sem qualquer experiência nas lides da silvicultura. Nunca na minha tenra idade tinha usado uma motorroçadora nem motosserra, nem tão pouco percebia o que era realmente um Sapador Florestal.” A humildade protege muitas vezes os que teimam em aplicá-la e aprender com ela. A formação foi difícil e depois veio o trabalho árduo nas encostas, o peso da máquina e das ferramentas, as dores nas costas e nos braços. “Uns bons meses” de dores. Todos à sua volta pareciam indiciar-lhe um fim rápido nestas lides de Sapador Florestal, dizendo que “aquele menino da cidade” não ia aguentar a pressão e o trabalho. Durou três anos a aventura e outros saíram antes dele.
O que é um Sapador Florestal?
Não sabia o que era um Sapador Florestal. Não sabia o que faziam. Embrenhado pelo espírito de defesa do proletariado que tantas vezes desfolhou durante a militância no PCP, começou a procurar informação e a falar com quem encontrava no Facebook. Na sua pesquisa e nas várias conversas, percebia que um Sapador Florestal não era ninguém e sofria de abusos acumulados durante anos: sucessivos atropelos aos direitos dos trabalhadores, salários e subsídios em atraso, assédio moral, equipas sem fardamento, etc.. O pior era que via que ninguém se preocupava com o estado de abandono do setor e, principalmente, daqueles homens e mulheres.
“A minha militância tinha acabado mas nunca abdiquei dos meus princípios e daquilo em que acreditava, o bichinho estava cá dentro e fez-me procurar um sindicato que soubesse responder às necessidades dos meus colegas, mas também às minhas”, diz-nos ele sobre o ponto de ignição de uma relação que já provocou várias mudanças na vida dos Sapadores Florestais. Encontrou o Sindicato Nacional da Proteção Civil (SNPC), constituído em Março de 2019. Era um sindicato novo, com um foco único em Portugal. Após o contacto, sindicalizou-se com o único objetivo de dar melhores condições de trabalho e melhores salários aos Sapadores Florestais.
A integração foi plena e a vontade em fazer mais levou a que fosse abordado pelo atual Secretário Geral Costa Velho para que fizesse parte do Secretariado Nacional e ocupasse e coordenasse o Setor da Conservação da Natureza e Florestas. O objetivo desse Setor era dar resposta às necessidades dos Sapadores Florestais, mas neste momento já defende os direitos de Sapadores Florestais, de Vigilantes da Natureza, do Corpo Nacional de Agentes Florestais (CNAF), dos Técnicos de Acompanhamento de Equipas de Sapadores Florestais, de Técnicos do ICNF, das Equipas de Gestão de Fogos Rurais do ICNF, da Força de Sapadores Bombeiros Florestais também do ICNF e da Guarda Florestal.
“Iniciámos a luta num setor abandonado, começámos do 0 (zero). Era o único associado Sapador Florestal. Iniciámos a luta no setor com o processo de salários em atraso de uma associação florestal lá para os lados de Bragança. Todos sabiam e ninguém fazia nada! Arregaçámos as mangas e fomos à luta pelos Trabalhadores e vencemos. Daqui iniciámos o processo de transformação de todo o setor, entraram mais associados, erguemos a luta pela Integração na Carreira Profissional de Sapador Bombeiro Florestal contra tantos, contra ameaças de morte e de acabar na valeta, nada nos fez desistir, quando tínhamos o mundo contra nós. Metemos mãos à obra e redigimos um modelo do Estatuto Profissional para o setor Privado, modelo esse que serve de base negocial e ao qual acrescentámos a reivindicação do aumento da verba para os 60 mil euros para todas as entidades patronais.”, afirma ele no momento em que foi eleito para o Secretariado Nacional da UGT (em Congresso realizado em Abril em Santarém) e em Maio fio um dos escolhidos para os órgãos distritais de Viseu também da UGT..
Alexandre Carvalho é também colaborador do Portal Bombeiros.pt e, desde o primeiro momento, fez questão de vincar a sua defesa intransigente dos homens e mulheres que querem dar tudo pelo seu país, mas que esperam que o seu próprio país não se esqueça deles.