
“Alguns usam equipamento que arde e cola-se à pele. Outros já têm equipamento mais ‘sofisticado’, na medida em que não arde, mas deixa passar calor e provoca queimadura na mesma”, sublinha Celso Cruzeiro, realçando que “o equipamento ideal para quem pisa terrenos em chamas é o que não arde nem aquece”.
Um dos casos mais graves, recorda o especialista em cirurgia plástica e reconstrutiva, foi o de um bombeiro de meia-idade, da corporação da Guarda: “Tinha mais de 40% do corpo queimado. Teve alta há muito pouco tempo”. As áreas do corpo mais atingidas foram a face, as mãos e os membros inferiores, além das lesões respiratórias – que, segundo o médico, “multiplicam por dois a gravidade das queimaduras”.
As deficiências no equipamento foram, aliás, uma das lacunas apontadas no relatório sobre os grandes incêndios do Verão passado, assinado por Xavier Viegas, especialista em fogos florestais, onde foi recomendado que não se deve poupar “no preço, na qualidade ou na exigência das especificações” do material. A segunda parte do relatório, relativa aos oito acidentes mortais, ainda não foi divulgada pelo Governo – mas sabe-se que, no incêndio do Caramulo, as botas dos bombeiros não resistiram às altas temperaturas, obrigando-os a apoiar-se com as mãos e os joelhos no terreno em brasa.
O Ministério Público continua a investigar as causas dos fogos que levaram à morte dos oito bombeiros. Até agora, foi arquivado apenas um inquérito, por não ter sido possível apurar a identidade dos autores do incêndio de Valença.
Recorde-se que, em 2013, ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, todos os bombeiros morreram devido a queimaduras graves e não por causa de acidentes laterais.
Dois bombeiros ainda estão internados
Segundo adiantou ao SOL fonte da Autoridade Nacional de Protecção Civil, ainda estão internados dois voluntários, de 23 e 24 anos: um no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e outro que foi transferido hoje do Hospital da Guarda para o de Coimbra. Têm ambos “queimaduras da via aérea e cutânea, na face, no tronco, no dorso e nos membros inferiores”. Nenhum corre risco de vida, mas ainda terão de ser submetidos a intervenções cirúrgicas. Outros quatro voluntários encontram-se em tratamento ambulatório ou a fazer fisioterapia nos hospitais de Coimbra e de S. João, no Porto, para tratar o mesmo tipo de lesões.
“A maioria dos bombeiros não tem equipamento de protecção para incêndios florestais, mas sim fardamento, que é usado tanto em incêndios como na condução de ambulâncias”, denuncia Rui Silva, presidente da Associação Portuguesa dos Bombeiros Voluntários, exemplificando: “Ainda no último concurso (Março de 2013), o caderno de encargos definia um tipo de bota militar que custa 48 euros. Ora, a bota certificada para bombeiro custa no mínimo 160 euros”. Da mesma forma, “contam-se pelos dedos os bombeiros que têm máscaras”, peça “fundamental que permite filtrar poeiras e parte dos gases tóxicos”.
A solução, defende o dirigente, passa por centralizar na ANPC a compra de todo o material, em vez de delegar em associações de municípios: “Isso aumentaria a transparência e garantia que o equipamento era uniforme de Norte a Sul do país”.
Fonte: Sol.pt