Numa altura em que o país não para de arder, é questionável um conjunto de assuntos que todos os anos na mesma altura vem à tona.
Ordenamento do território, prevenção, formação, operacionalidade, competências, vigilância, meios aéreos, coordenação, etc… Uma infinidade de questões que se fazem, mas que ficam todos os anos por responder.
Porem, o problema dos incêndios florestais quando deles falamos, carece de ser analisado de uma forma global, como tal, não nos podemos restringir apenas e só a criticar os bombeiros, que, como todos sabemos estão no final da linha deste mega processo dos incêndios florestais, ou seja, atuam quando tudo falha. No entanto, todos reconhecermos que em termos de recursos humanos os bombeiros apresentam um défice anormal de elementos, que ressente-se nestas alturas de maior necessidade de operacionais no terreno.
Passados todos estes anos, após a aprovação de um conjunto de medidas nomeadamente: a obrigatoriedade do cumprimento de horas anuais, objetivos, introdução de oficiais bombeiros, regime jurídico, o SIOPS, etc… alguns apregoavam por aí que tal feito iria trazer melhor estruturação, coordenação e organização dos corpos de bombeiros. Ora, penso que chegou a altura de questionar o que ganhou o país, o que ganharam as associações de bombeiros e as suas populações com estas medidas? Afinal de contas o que é pior, é ter bombeiros na reserva impedidos de efetuar serviço operacional ou ter a população a combater incêndios sem qualquer proteção, formação e competências para o combate aos incêndios? Não se compreende esta filosofia da treta, que nos torna num país mais pobre a cada ano que passa.
Julgo assim ser pertinente, repensar toda a legislação levada a cabo ao longo dos últimos 4/5 anos, sobe a pena de a um curto prazo haver um colapso no que respeita à falta de bombeiros.
Mas voltando ao problema de base dos incêndios florestais, é preciso voltar haver uma política de silvicultura, reativação dos postos de vigia (no sentido de minimizar os tempos de alerta), apostar na prevenção (abertura e limpeza de faixas de contenção), apostar no reequipamento dos corpos de bombeiros (nomeadamente veículos e equipamento de proteção), apostar nas novas tecnologias de gestão de meios (há por vezes grandes dificuldades na localização geográfica dos meios), na semiprofissionalização dos bombeiros, no incentivo ao voluntariado (através do estatuto social do bombeiro), isto tudo porque desde sempre falhou e continua a falhar, o ordenamento do território e das florestas, problema base dos incêndios florestais. É aqui que entram também os municípios, quando se pensar construir uma habitação é preciso não adulterar o que está na lei, por outro lado os municípios têm de dotar os seus gabinetes de técnicos capazes de estruturar e pôr em prática os planos municipais de proteção civil. Não se pode tratar deste tipo de gabinetes como se fosse mais um, está em causa a vida das pessoas e dos seus bens, pelo que, deve ser dada uma especial atenção adotando estes gabinetes de sistemas consistentes de telecomunicações, que consigam por sua vez, interligar os municípios e os corpos de bombeiros do seu concelho e apostar na formação conjunta entre os diversos agentes de proteção civil de cada município.
Há muito trabalho pela frente, mas quando tudo falha, quem é que está presente?
Até à próxima
Sérgio Cipriano
scipriano@bombeiros.pt