Os 27 comandantes e adjuntos dos bombeiros algarvios que combateram o grande incêndio de julho na região contestaram hoje o relatório da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) sobre o fogo, que classificam como “oportunista”.
“Como pode este relatório, que consideramos oportunista e com interesses ocultos, pôr em causa o trabalho de quase uma década, que muitas vezes é considerado exemplar pelo resto do país?” – questiona o documento, assinado por todos os 27 comandantes e adjuntos que estiveram no terreno durante os quatro dias de incêndio que lavrou nos concelhos de Tavira e São Brás de Alportel.
O relatório elaborado pela LBP acerca do incêndio florestal ocorrido nos concelhos de Tavira e S. Brás de Alportel conclui ter havido “falhas graves” na estratégia e coordenação no comando das operações e que “o dispositivo de combate andou sempre atrás do incêndio em vez de se antecipar à sua evolução”.
Sustenta ainda que “não foi feita uma correta identificação das necessidades e o atempado pedido de reforços” e que o método de combate indireto e a mobilização de meios “só se verificou de forma estruturada cerca de 48 horas após o incêndio se ter iniciado”.
Em resposta, os comandantes e subcomandantes algarvios – todos os que estiveram no teatro de operações entre 18 e 21 de julho – assinalam que o relator, comandante Duarte Caldeira, manifesta “um total desconhecimento da atividade desenvolvida pelos corpos de bombeiros” e um “total desrespeito” pela sua “abnegação e espírito de entreajuda”.
Os comandantes manifestam ainda a sua “perplexidade” pelo facto de os elementos do Posto de Comando Operacional e os profissionais com mais experiência não terem sido ouvidos no âmbito do relatório.
Os bombeiros, reunidos quarta-feira para aprovação daquele documento, manifestam total confiança no Comandante Operacional Distrital e no Comandante Operacional Nacional, “este último responsável pelo trabalho de preparação e espírito de corpo” que se traduz na “reconhecida capacidade de resposta dos Bombeiros do Algarve”.
Em contrapartida, acentuam que não reconhecem capacidade técnica, operacional ou científica ao relator do documento, o qual “apresenta diversas imprecisões, revelando leviandade” na sua elaboração.
“Só quem não conhece a particularidade e especificidade da Serra do Caldeirão e a influência do clima mediterrânico é que pode pôr em causa o comando e controlo da maior operação de proteção civil alguma vez vista em Portugal”, afirmam os comandantes do Algarve.
Lamentando as perdas patrimoniais, os mesmos responsáveis sustentam que o facto de não ter existido uma única vítima mortal ou ferido grave é um indicador “do trabalho feito por todos no terreno, que não pode ser denegrido por aqueles a quem é dado, indevidamente nesta matéria, tempo de antena”.
Observam que no tempo do incêndio foi dada resposta a 1.001 ocorrências, envolvendo 6.536 operacionais e 1.919 meios técnicos.
Em declarações à Lusa, o comandante Paulo Jorge, dos Bombeiros de Lagos, sublinhou que o relatório foi feito “por decisão da Liga, por sua iniciativa” e diferenciou o documento do que foi produzido pela Associação Nacional de Proteção Civil.
“Atendemos mil ocorrências no espaço de três dias, não se pode dizer que não temos capacidade de resposta”, enunciou, manifestando-se “magoado” com o conteúdo do documento da LBP.