Alguém conhece o Senhor Comandante Guilherme Gomes Fernandes? Alguém conhece o seu percurso? Quem sabe o que ele conseguiu a nível internacional? Alguém sabe o que o movia? Qual era o espirito na sua época? Creio que muita pouca gente deve saber, mas podem consultar em baixo uma breve biografia mas muito esclarecedora, que nos permite concluir que o espirito de então, praticamente desapareceu.
Isto apenas serve de introdução para mais uma vez mostrar a minha tristeza e o meu desagrado pela situação que os Bombeiros Portugueses vivem neste momento, por sua própria culpa.
Deixamos que nos tirassem toda a nossa essência, personalidade e identidade! Entre muitas outras coisas entristece-me o facto de não termos o nosso próprio Comando Nacional e o nosso próprio sistema, à semelhança do que já existia. Somos o principal Agente de Protecção Civil (A.P.C.) e que por acaso não tem nenhum representante ou responsável operacional, à exceção dos 474 Comandantes dos Corpos de Bombeiros (existentes em 2010), dos quais alguns, com o devido respeito, apenas se preocupam em ter veículos melhores do que o CB vizinho, Quarteis melhores do que o do vizinho (mas sem analisar a operacionalidade do mesmo), continuando a viver numa realidade de quintinhas, rivalidade e falta de união.
Felizmente é uma realidade que tem vindo a desaparecer, mas muito lentamente. A melhor mais-valia de qualquer organização é o potencial humano, que está muitas vezes esquecido! Os Homens e Mulheres que todos os dias vestem a farda, independentemente de serem Sapadores, Voluntários, Municipais, Mistos ou Privativos, querem-se motivados, formados, respeitados e valorizados! O que é que falta aqui? A união de todos para que em vez de pedinchar cada um para si, possamos EXIGIR como um todo ao Governo, que nos devolva a nossa identidade, o nosso Comando e que nos comece a valorizar! Grande parte dos A. P. C. são profissionais, logo todos, (sociedade, Bombeiros, Comunicação social, etc.) dizem, á boca cheia que são umas máquinas no trabalho que desempenham, na disciplina, no rigor e na postura que ostentam!
Eu também acho o mesmo, e sinceramente não tenho nada contra essas forças, antes pelo contrario, e já que as criaram agora que as mantenham, mas… e os Bombeiros não são visto assim porquê? Apesar da maior parte dos A. P. C. serem profissionais, é nos Bombeiros Voluntários que se encontra o maior número de efetivos. Esses efetivos estão limitados na sua formação e na sua disponibilidade não por vontade própria, e nem por vontade dos seus Comandos, mas sim pelo risco que correm em não verem o seu contrato de trabalho renovado se, mesmo em conformidade com a lei, frequentarem as formações e acorrerem aos T.O.’s no seu horário de trabalho.
Então onde está a solução? Eu vejo de forma simples, outros verão de forma mais complexa. PROFISSIONALIZAÇÃO! Existem 2 forças profissionais (GIPS e FEB) criadas recentemente, com o primeiro, e na altura principal, objetivo de combaterem incêndios florestais (é o que mais show off dá a TODA a estrutura operacional) e que fazem basicamente a mesma coisa, embora cada uma com a sua orgânica e origem bem diversa, assim como algumas valências distintas. Foi preciso investir MILHÕES do herbário público, para formação, equipamento (desde EPI aos veículos), infra-estruturas (umas construídas de raiz, outras recuperadas).
Numa dessas forças, apenas na primeira fase de criação aplicou-se mais de 17 M€. Não obstante, nos Bombeiros Portugueses, as infra estruturas já existiam e existem, os veículos também, muitos operacionais formados nas mais diversas áreas. Porque não selecionar CB’s geográfica e estrategicamente colocados, e iniciar um processo de profissionalização? Obvio que não é necessário profissionalizar TODO o efetivo do CB, mas sim abrir as vagas necessárias, assim como um concurso e prestação de provas adequadas a fim de as ocupar.
Salvaguardando sempre o lugar e o respeito dos Voluntários, pois é certo e sabido, que são parte indispensável de todo o sistema. É evidente que também deveria ser criado novo regulamento para essas equipas profissionais, que apesar de estarem na tutela direta do Comandante do CB local, pudessem ser mobilizadas no território nacional aquando dessa necessidade, passando a estar na dependência temporária da estrutura nacional, com meios nacionais que poderão estar alocados nos CB’s que fizerem parte dessa mobilização.
Há algumas coisas muito importantes que parecem passar ao lado de muita gente da tutela. Existem algumas EIP’ s cujo financiamento é partilhado entre duas entidades, a ANPC e o Município, em que as verbas são canalizadas para as AHBV através de subsídios, a fim de procedem ao pagamento do salário (miserável diga-se de passagem), mas faz-me confusão como é que 1 funcionário tem “3 patrões”. Ainda mais confusão me faz e pergunto-me muitas vezes “será que os incidentes e emergências têm hora marcada?” Não sei, é que uma EIP tem horário de trabalho legalmente definido (as adaptações são da responsabilidade de quem as faz), normalmente horário laboral. E os incidentes têm mais probabilidade de acontecer quando? Mas é um mal menor, pelo menos tenta-se remediar a situação com uma equipa que trabalha de Segunda a Sexta. Mas e os CB’s que não dispõem dessas equipas? E os CB’s que embora digam no seu regulamento interno que dispõem de equipas, à partida voluntárias, em 3 turnos, mas que na realidade não existem? Esses CB’s são mais que muitos! Os voluntários são isso mesmo, VOLUNTÁRIOS, e têm os seus afazeres laborais para conseguirem ter um ordenado para sustentar a sua própria casa. Não podendo estar durante o dia no quartel, e assegurando simplesmente (por vezes com algum sacrifício) os turnos da noite. Esta falha tenta-se colmatar com os funcionários assalariados cujo principal objetivo são os serviços clínicos. Agora eu pergunto “em dia de muitos serviços clínicos, com todo o pessoal fora e sendo necessário o veículo de desencarceramento ou a central recebe um alerta de incêndio urbano como se faz?” É fácil, emite-se um alerta e “toca-se a sirene” e espera-se que apareça alguém, mantendo-se a incógnita até á sua chegada. Por vezes alguns CDOS ainda dizem “ ah e tal se não tiver gente nos enviamos de outro CB”, como se os outros CB’s funcionassem de forma diferente!
A sirene ou os alertas apenas deveriam servir para chamar pessoal de reforço e não para primeira intervenção.
Mas isto acontece não por falta de vontade dos Comandantes, não por falta de vontade dos operacionais, ou ate mesmo por falta de vontade de alguns CODIS. Acontece pela conjuntura que vivemos, pela falta de visão e do sentido real da responsabilidade por parte da tutela, por meros caprichos ou por simples desinteresse. É necessário pensar de forma séria, responsável e clara na solução do problema. A primeira intervenção não pode estar assente apenas no voluntariado, mas sim numa solução profissional! Mais uma vez reforço que o Voluntário é fundamental e indispensável ao sistema de proteção e socorro, mas no reforço, pelos motivos já explicados.
O que poderiam as equipas profissionais fazer durante a época mais baixa? (Sim porque todos nós sabemos que a época alta é no verão com os incêndios florestais.) Tantas coisas, desde ações de sensibilização junto da comunidade, ações de formação (recebidas e/ou ministradas á comunidade ou outras entidades), trabalho de atualização de planos de intervenção (todos sabem que na maior parte dos municípios isso não existe e quando existe não está devidamente atualizado), mas acima de tudo poderiam trabalhar na sua própria formação e partilhar os conhecimentos adquiridos com os efetivos voluntários, para estes estarem mais e melhor preparados, mais valorizados e mais conscientes do que de facto estão para enfrentar em cada situação. Existindo uma equipa 24h por dia profissional a primeira intervenção estará salvaguardada ao mais alto nível. Os voluntários só têm a ganhar com a partilha de conhecimentos destes profissionais. O sistema atual apenas quer obrigar os voluntários a serem profissionais sem receberem por isso. Através da minha experiencia, consigo concluir que enquanto voluntário faço o dobro do horário que faço no meu local de trabalho.
É preciso recordar que o País não é apenas os grandes centros, há zonas de Portugal em que um meio de socorro demora mais de uma hora a chegar. Sendo o trajeto tão moroso, as vítimas ainda têm que aguentar com o tempo incógnito da chegada de voluntários aos quarteis para saírem para a ocorrência?
Há duas coisas que não se podem confundir PROFISSIONALIZAÇÃO com PROFISSIONALISMO! Muita gente se irá questionar “e o financiamento?” Certamente que não será através do PPC actualmente atribuído ás AHBV, será necessário criar mecanismos, mas deixo já uma “provocação”. Como é o sistema de financiamento do INEM? Reparem bem nos vossos recibos dos seguros.
Muito mais se poderia escrever, sendo este assunto muito complexo e “melindroso”. Muitos criticarão de forma destrutiva esta minha mera opinião, exposição, reflexão, ou o que lhe quiserem chamar, muitos outros apoiarão, contudo apenas vos digo que “se eu evoluir, quem está á minha volta também evolui e juntos, seremos melhores”.
Esta minha reflexão/opinião não tem o intuito de ofender ou criticar de forma destrutiva nada nem ninguém, pelo que peço desde já desculpas se tal acontecer.
Vemo-nos por aí…
Adj. Comando, Marco Domingues.
C. B. 1608 – Valença
Comandante Guilherme Gomes Fernandes
http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=1006568
Podem ainda encontrar mais informações em outros locais.