A Autoridade Nacional de Protecção Civil reconhece que, no recente incêndio no Algarve, houve «debilidade na coordenação ou no comando» e refere «a insuficiência da rede viária», que atrasou em três horas a chegada de meios a local.
Estas são alguns dos factos apontados no relatório da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) sobre o incêndio que lavrou nos concelhos de Tavira e São Brás de Alportel, em Julho, e que o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, enviou hoje para a Assembleia da República.
O relatório de ocorrências da ANPC, pedido por Miguel Macedo, refere que «a severa evolução do incêndio tornou evidente a necessidade de incremento da capacidade de comando e controlo, que não era possível com os meios presentes e um único posto de comando operacional montado em Cachopo, pelo que se procedeu ao reforço de meios e ao desdobramento de posto de comando operacional».
Esta opção levou a que se tenham verificado «momentos de sobreposição ou indefinição das funções dos postos de comando, por falta de rotina na intervenção em ocorrências com esta dimensão, que podem ter contribuído para entendimentos temporários de debilidade na coordenação ou no comando, tendo porém sido prontamente ultrapassados», adianta o documento de 143 páginas.
O relatório, que descreve pormenorizadamente o decurso das operações, desde o início do incêndio, às 14h10 do dia 18 de Julho, até ao seu encerramento, às 14h20 de 27 de Julho, sublinha também que «o despacho inicial de meios foi incisivo, mas a insuficiência da rede viária e distância, ditou que meios de combate que foram despachados imediatamente após o alerta, em alguns casos, apenas chegassem ao local ao fim de três horas de deslocação».
A ANPC considera que constituiu «forte condicionante ao esforço de supressão dos incêndios a fraca densidade da rede viária, que não é adequadamente compensada pela rede de caminhos locais, uma vez que estes não apresentam boas condições de transitabilidade para veículos operacionais pesados nem garantias de cruzamento, inversão de marcha ou saída».
O relatório, elaborado pelos adjuntos de operações nacionais Miguel Cruz e João Verde, refere igualmente que «não parecem existir elementos que permitam atribuir a extensão e duração deste incêndio a um qualquer factor isolado, mas antes à conjugação de acontecimentos e condicionantes que isoladamente poderiam não ter relevância, mas em conjunto traçaram a evolução desta ocorrência», com a simultaneidade de ocorrências, características locais e as indisponibilidades temporárias de meios por acidente e avaria.
A ANPC refere que o empenho dos profissionais «foi pontualmente contrariado» com a necessidade de salvaguardar o edificado disperso, que «claramente não se encontrava protegido por boas práticas de silvicultura preventiva, nem cultura de autoprotecção», pela topografia muito desfavorável que potenciava ventos locais e avanços rápidos do fogo, pela elevada distância a que os meios terrestres de ataque inicial se encontravam, e ainda pelas condições meteorológicas.
A opção inicial de combate visou «exclusivamente» a protecção das populações sem «possibilidade de, efectivamente, travar a progressão das frentes de fogo», tendo-se mudado a estratégia de combate passados dois dias, o que levou à extinção do incêndio.
A Protecção Civil reconhece também que não existe «uma rotina de intervenção em incêndios florestais de grande dimensão e duração», considerando que «nem sempre se tenha reunido a necessária capacidade humana», que depende «das rotinas de treino de todos os operacionais e das doutrinas de comando e controlo».
O relatório adianta ainda que o incêndio consumiu uma área de 21.562 hectares, dos quais 6.708 correspondentes a povoamentos e 14.854 a matos.
Depois de ter recebido o relatório da ANPC, na passada sexta-feira, o ministro determinou uma avaliação aos incêndios, que lavraram no Algarve, a uma entidade independente, avaliação que deve estar concluída até ao final de Setembro.
FONTE: Lusa/SOL