O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais defendeu, esta quinta-feira, que é preciso apostar na prevenção dos incêndios e mudar a estratégia de combate, que não deve “colocar os bombeiros perto da linha de fogo”.
Fernando Curto, presidente da ANBP, explicou que o contingente de combate aos incêndios é composto por muitos bombeiros que são profissionais e por outros que acumulam o facto de serem bombeiros voluntários “com o emprego que já têm e que tiram férias nesta altura para desempenhar estas funções durante este período”.
O responsável salientou que tanto os voluntários como os profissionais têm formação inicial de bombeiros, mas “o problema é que não há consistência nessa formação”, já que o bombeiro profissional “obriga-se a ter mais formação e ações de reciclagem”, e nos outros casos “essa regularidade muitas vezes não existe, porque os homens trabalham e têm uma formação menos regular e com uma carga horária menor”.
No entanto, na sua opinião, não foi por terem muita ou pouca experiência que morreram este ano sete bombeiros, um dos quais hoje, no combate a incêndios.
“Morreram bombeiros com 40 e tal anos e bombeiros com 20 anos. Os camaradas com 40 e tal teriam muito mais experiência e muito mais formação, mas morreram porquê? Há aqui uma coisa comum: é a estratégia de combate aos incêndios. É a prevenção. É o ataque defensivo que se calhar não foi feito”, considerou.
O presidente da ANBP considerou que é preciso mudar a estratégia de combate aos incêndios florestais e fazer um ataque defensivo, “sem colocar os bombeiros muito perto da frente de fogo”.
“Em muitos dos incêndios deste ano houve o efeito de chaminé em vales onde estávamos a atuar e onde não deveríamos estar. E temos de repensar esta coordenação para, no próximo ano, não fazermos mais funerais e dizermos que os bombeiros são uns heróis. Não vale a pena. Há é que evitar estes incidentes”, considerou.
Por outro lado, há toda a prevenção dos incêndios, começando pela ordenação da floresta, que não foi feita e que “já é um problema estrutural”.
“Juntamente com os guardas da natureza, com os guardas florestais e com os próprios bombeiros, utilizar motosserras e fazer o derrube de algumas árvores onde isso possa acontecer, no sentido de que os bombeiros pudessem aí esperar o incêndio e extingui-lo em coordenação com os meios aéreos. Há aqui falta de coordenação. Na nossa opinião há que rever a coordenação no sentido de organizar melhor quer a intervenção, quer a colocação dos meios humanos e materiais no terreno”, salientou.
Fernando Curto destacou que muitos dos proprietários não limpam os terrenos e depois “esperam que, em caso de incêndio, sejam os bombeiros a salvar-lhes os pinheiros”.
“Não havendo um grande contingente, não querendo colocar os bombeiros em risco, o método de ataque ao fogo este ano deveria ter sido defensivo. Os comandantes têm de fazer uma limitação do terreno e porventura deixar arder. Mas não é defensivo, porque há alguém que está preocupado com as estatísticas. Eu não estou preocupado com as estatísticas. Eu não arriscaria, enquanto comandante, salvar meia dúzia de pinheiros e, porventura, por a vida dos meus bombeiros em risco”, acrescentou.
Destacando que os bombeiros desconhecem “relatórios sobre as condições das mortes das duas colegas que morreram no ano passado, Fernando Curto espera que este ano “existam relatórios pormenorizados de como é que aconteceram” as mortes de sete bombeiros.
“O que houver para corrigir tem de ser corrigido, no sentido de não voltar a acontecer, mas parece que há sempre um receio muito grande de fazer esta avaliação”, concluiu.
Fonte: JN