A pouco mais de uma semana do início da “época de incêndios florestais”, o Secretário de Estado da Proteção Civil, João Almeida, concede uma entrevista ao portal bombeiros.pt para nos falar das estratégias do DECIF2015.
Houve ainda a oportunidade de falarmos sobre questões que estão na ordem do dia, relacionadas com o voluntariado e os recursos financeiros existentes para esta área.
Bombeiros.pt: Sente que há barreiras/paredes entre as diversas forças da Proteção Civil que estão a ser derrubadas?
Sec. Estado: Tenho noção de que, no passado, em termos de relacionamento, as coisas não eram como são hoje em dia. Felizmente, já assumi funções numa época em que a relação entre todos os agentes era muito positiva e portanto tenho a experiência de ter uma colaboração muito empenhada de todas as entidades e da sua articulação no terreno ser perfeita. Portanto, a minha experiência já foi neste sentido e hoje, mais uma vez, testemunhamos isso, é verdade.
Bombeiros.pt: A proteção Civil continua a “desatar muitos nós”, no que respeita a constrangimentos económicos. Esses constrangimentos levaram a que este dispositivo fosse adaptado?
Sec. Estado: Não, aliás mesmo na fase mais difícil, nos anos em que estávamos sujeitos a uma jurisdição em termos de afetação dos nossos recursos dividida com os nossos credores, nunca a Proteção Civil teve qualquer reflexo por razões óbvias de ser uma área fundamental, em que uma boa gestão de recursos, mesmo em altura de dificuldade, não pode por em causa, aquilo que é a capacidade de resposta. Pelo contrário, fomos aumentando a nossa capacidade e este ano, mais uma vez, fizemo-lo.
Bombeiros.pt: Tendo em conta que a Proteção Civil é uma área muito específica, como é que assume responsabilidades numa área tão diferente daquela que é a sua, não tendo tido nunca nenhuma relação com o mundo dos bombeiros?
Sec. Estado: Isso, confio no julgamento que faça quem está no terreno e, portanto, as pessoas que estão no terreno, os bombeiros antes de mais, é que têm de avaliar isso. Para mim tem sido uma experiência extremamente enriquecedora e penso a cada dia, naturalmente, estar à altura daquilo que é ter a responsabilidade política numa área em que tantos operacionais, com tantos anos de experiência, dão tudo o que podem dar no limite da vida ao serviço das missões em que estão empenhados.
E, portanto esse sentimento faz com que seja uma experiência enriquecedora e que, sinceramente, eu acho que para mim é algo que fica e ficará para sempre. É um facto que a ligação anterior não existia, mas, não tenho dúvida é que para o futuro será uma área muito importante porque ficarei com laços de quem partilha este esforço e este trabalho com objetivos comuns, numa área em que lidamos com o risco e a pressão de uma forma especial.
Bombeiros.pt: Se tivesse mais recursos financeiros, que alterações colocaria à DON no DECIF 2015?
Sec. Estado: Confesso que, à DON não haveria muito a alterar. No âmbito da circular financeira, o pagamento aos elementos que integram as equipas seria claramente a prioridade, se tivesse disponibilidade financeira para isso.
Bombeiros.pt: Tendo em conta as dificuldades no voluntariado, há alguma aposta ou estratégia por parte do governo no sentido de profissionalizar mais equipas de bombeiros?
Sec. Estado: Sim, no distrito que consideramos mais crítico em termos de recrutamento, que é Viana, nós criamos mais 3. No ano passado disponibilizamos a criação de 10 mas não tivemos nenhum município que tivesse aderido. Como sabe, as EIPs são financiadas a 50% pelo estado central e a 50% pela Câmara Municipais. Este ano, felizmente, houve 3 Câmaras que se disponibilizaram e nós avançamos imediatamente para a criação dessas 3 equipas.
Também, ao nível das ECINs o ano passado aumentámos 50 e este ano 17. São as 17 possíveis em termos de capacidade de resposta dos bombeiros.
Portanto, isto trabalha-se ao nível das equipas e ao nível do ponto de vista financeiro, mas também, dos incentivos do voluntariado que achamos que é importante continuar a trabalhar.
Verificamos que no Registo Nacional o número de bombeiros não tem diminuído, tem aumentado, há é o problema das assimetrias. Nós temos zonas do país em que o voluntariado está mais ativo e zonas do país em que o voluntariado é mais difícil, principalmente porque hoje em dia há factores de deslocação, quer interna e externa, que tornam mais difícil esta deslocalização, principalmente quando as pessoas estão numa idade em que do ponto de vista operacional são mais úteis. Desde logo aquele que saem para estudar ou trabalhar fora. Isso faz com que não só os recrutados sejam menos como a base de recrutamento seja menor e nós temos dificuldade em combater isso só com medidas para os bombeiros.
Bombeiros.pt: Mantemos essa ideia que o voluntariado é essencial neste momento?
Sec. Estado: Não deve ser o Estado a determinar isso, o Estado deve perceber que havendo essa capacidade instalada deve respeita-la e potencia-la. Eu confio muito no voluntariado e portanto o trabalho que devemos fazer é no sentido de o promover e apoiar.
In Bombeiros.pt