Vivemos na era das redes sociais, em que tudo é fotografado, partilhado e comentado. A imagem é hoje tão poderosa como o próprio ato de estar no terreno. E por isso mesmo é que me choca e preocupa ver bombeiros a transformar a farda em adereço de brincadeira.
Não estou a falar de boa disposição entre camaradas, essa é saudável e até necessária. Falo de fotografias publicadas em páginas pessoais ou nas páginas das corporações, onde vemos operacionais “todos contentes” a caminho de um incêndio, sorridentes em grupo, a deitar a língua de fora, ou a posar como se o serviço fosse um passeio de domingo.
Isto não é uma questão de humor. É uma questão de imagem institucional. O cidadão que nos vê nas redes sociais não distingue se aquele momento foi antes ou depois da dureza do combate. Vê apenas a fotografia. E o que a fotografia transmite é o que fica: leveza, falta de seriedade, até irresponsabilidade.
É duro dizê-lo, mas é a verdade: cada vez que alguém publica este tipo de imagem, arrasta a credibilidade de todos nós. Os bombeiros, homens e mulheres que arriscam a vida, passam a ser vistos como um grupo de amigos em excursão. E quando a confiança da sociedade vacila, a instituição inteira perde.
Esta crítica não é dirigida a um ou outro Corpo de bombeiros em particular. É transversal. Mas como bombeiro, preocupa-me, preocupa-me porque sei o que representamos e o peso simbólico da nossa farda.
A comunicação institucional não pode estar nas mãos de leigos, nem de vontades individuais. Precisa de ser profissional, filtrada, estratégica. Aliás, digo mais: bombeiros deviam ser proibidos de publicar este tipo de imagens enquanto envergam a farda. Porque a farda não é fantasia. Não serve para brincadeiras, poses ou likes. Serve para servir, proteger e inspirar respeito.
Se queremos continuar a ser vistos como pilares de confiança e seriedade, temos de ser os primeiros a respeitar a nossa imagem. Caso contrário, um dia acordamos e descobrimos que já ninguém nos leva a sério.

 

