Imagine os três meses de Verão com o termómetro a atingir, todos os dias, sem falhas, os 30,5oC. Esta é a imagem virtual do Verão de 2005 – o mais quente em Portugal desde 1931. Aquele valor representa a média das temperaturas máximas ao longo dos meses de Junho, Julho e Agosto.
Curiosamente, 2005 teve um Inverno rigoroso, com duas ondas de frio em Janeiro e Fevereiro e recordes de temperaturas baixas batidos nos primeiros dias de Março. Em Montalegre e na Guarda, os termómetros desceram a -10oC, nas Penhas Douradas a -12 oC.
O Verão trouxe o oposto, com duas ondas de calor logo em Junho e um Agosto também extramente quente.
O país mal se recompusera das catástrofes de 2003 – 426 mil hectares de área ardida e quase dois mil óbitos devidos ao calor –, quando o inferno voltou. O país voltou a arder – ou pelo menos aquilo que ainda não tinha sido consumido pelas chamas em 2003. Foram 339 mil hectares de área ardida, um valor tão catastrófico como o registado dois anos antes.
Os fogos começaram em Junho, lavraram com grande força em Agosto e estenderam-se por Setembro e até Outubro, quando ainda consumiram 15 mil hectares de floresta.
Costuma-se dizer que o mapa dos incêndios de 2005 é uma espécie de negativo do de 2003. Mas os dois anos conservam diferenças. “Em 2003 os fogos foram bastante mais localizados”, afirma o investigador José Miguel Cardoso Pereira, do Instituto Superior de Agronomia. As maiores áreas ardidas concentraram-se no Médio Tejo e no Algarve. “Em 2005, foram mais generalizados por todo o território a norte do Tejo, excepto o que tinha ardido em 2003”, completa.
Além das condições da atmosfera em si, havia um factor determinante para o calor e os incêndios de 2005: a avassaladora seca que começara em 2004. No auge do Verão, em Julho e Agosto, todo o país estava em seca “severa” ou “extrema”.
A humidade no solo é um dos factores que contam para as temperaturas no Verão. Com mais chuva, parte da energia do sol é direccionada para a evaporação da água no solo. Há também mais probabilidade de ocorrência de nuvens baixas, reduzindo a insolação.
Sem chuva, os raios solares que chegam ao solo acabam por ser mais facilmente irradiados de volta como calor, aumentando a temperatura da atmosfera. “A excepcionalidade de 2005 foi a seca”, afirma Pedro Viterbo, director do Departamento de Meteorologia e Geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O Verão desse ano foi o segundo mais seco desde 1941, atrás apenas do ano de 1996.
FONTE – Publico.pt