Lisboa ameaçada por sismo mas só no próximo milénio

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Uma imagem de um sismo que atingiu Lisboa em 1969

Ordenamento do território e proteção civil têm de ser melhorados. Estes serão alguns dos temas em análise numa conferência que terá lugar em Setúbal estas quinta e sexta feira

“Só daqui a mais de mil anos é que Lisboa deverá sofrer um sismo como o de 1755.” Esta é a previsão de José Luís Zêzere, investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, que se baseia no facto de os terramotos serem cíclicos e do mais provável antecessor do sismo que destruiu a capital a 1 de novembro de 1755 ter ocorrido em 63 depois de Cristo. “O período de retorno pode andar pelos 1700 anos”, frisou em declarações ao DN.

José Luís Zêzere é um dos participantes na conferência internacional Riscos, Segurança e Cidadania, que esta quinta feira e amanhã reúne vários especialistas em Setúbal, admitindo o investigador como “certeza científica” que mais cedo ou mais tarde Lisboa e o Litoral português voltarão a ser atingidos por um sismo seguido de tsunami. O fenómeno deverá ser semelhante ao que em 1755 destruiu a capital, provocando entre 40 mil a 80 mil mortes no país e 20 mil em Lisboa. Segundo o simulador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, um novo sismo poderá matar entre 17 mil e 27 mil pessoas, dada a vulnerabilidade de Lisboa, sobretudo ao nível dos edifícios.

“Um sismo é um processo de libertação de energia que ocorre ao longo de falhas tectónicas. A energia para se libertar tem de se acumular primeiro. É esse o processo cíclico”, justifica, admitindo não haver lugar a “certezas absolutas” sobre eventuais datas. Apesar de o terramoto ter sido o mais estudado do mundo, diz o investigador, ainda se desconhece qual foi a falha tectónica que esteve na sua origem, embora se admita que possa ter tido lugar algures a sudoeste da costa algarvia.

Mas houve mais terramotos a afetarem gravemente Lisboa além do de 1755. José Luís Zêzere recua a 26 de janeiro de 1531, quando teve lugar um com epicentro em Vila Franca de Xira. “Está ligado às falhas do vale inferior do Tejo. Teve magnitude mais baixa (8.5), mas como foi mais próximo produziu uma maior destruição”, sublinha. Terão morrido cerca de 30 mil pessoas.

Então, o que estamos a tempo de fazer para minimizar um novo episódio sísmico de grande magnitude? José Luís Zêzere pede rigorosas medidas de política de ordenamento do território e de proteção civil.

A começar pelo reforço de edifícios estratégicos, como hospitais, centros de saúde, quartéis de bombeiros, escolas ou centros comerciais, onde ocorrem habitualmente grandes concentrações de pessoas. E atenção aos arruamentos.

O investigador sugere que as novas urbanizações sejam projetadas com largura suficiente para permitirem a passagem de viaturas dos bombeiros em caso do colapso de edifícios. Para as famílias propõe um plano de proteção civil, com um ponto de encontro onde se poderão juntar em caso de catástrofe.

Também Duarte Caldeira, do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, destaca a “gestão do risco” que vai marcar a conferência para tentar minimizar os efeitos de catástrofes, alertando para a prioridade que deverá ser dada ao reforço dos edifícios antigos de Lisboa que aos dias de hoje seriam um autêntico baralho de cartas em caso de abalo sísmico. “A esmagadora maioria das casas são anteriores à década de 70, onde estas questões eram ignoradas. A sua reabilitação seria demasiado cara”, reconhece, defendendo o reforço das estruturas, ficando habilitadas a responder ao movimento das ondas sísmicas sem colapsar. Qual seria hoje a resposta da proteção civil a um sismo como o de 1755? “Dizer que estamos preparados para evitar mais mortes e destruição era uma resposta irresponsável, conhecendo as fragilidades do edificado”, admite Duarte Caldeira, reconhecendo que ainda nada “foi feito a montante, ao nível do ordenamento, para minimizar os estragos”.

DN

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Ana Romaneiro

Nasceu em Évora onde cresceu e estudou. Desde muito cedo que partilha o gosto pela informática, que, a levou a tirar um curso profissional técnico de Gestão de Sistemas Informáticos, profissão que exerceu durante 12 anos. A sua ligação aos bombeiros surge aos 13 anos ao entrar na fanfarra dos Bombeiros de Évora, onde permaneceu até 2013. Na atualidade integra a segunda EIP da corporação dos Bombeiros de Reguengos de Monsaraz, no posto de bombeira de 2º.