
Comandante Virgílio Borges (Foto: Porta da Estrela)
O mal estar entre o comandante e a direcção dos Bombeiros Voluntários de Seia assombrou a sessão solene das comemorações do 80º aniversário, que decorreram no dia 1 de Junho. Virgílio Borges subiu à tribuna para se defender das «infâmias» de que tem sido alvo no último ano, acusando a direcção de Paulo Hortênsio de dividir o Corpo de Bombeiros.
Logo após os cumprimentos às entidades presentes, o comandante dos Voluntários de Seia começou por referir que as cerimónias de aniversário «são, essencialmente, para dar a conhecer os feitos ocorridos no ano anterior, mas em Seia «pouco ânimo temos para festejar».
Num discurso curto mas directo, Virgílio Borges, que na cerimónia do ano passado foi “despedido” pela direcção, referiu que «não se orgulha» do ano transacto e que se fosse possível «até o baniria da memória». Enquanto o país assistia às «duras tarefas» de combate a incêndios, que causavam feridos e mortos, em Seia «alguns elementos da direcção acusavam os bombeiros e o seu comandante de excesso de formação». Depois, alega, «foi um suceder de infâmias e de dificuldades», como sejam «que alguns processos administrativos não estariam conforme, não permitir que funcionários da Associação frequentassem formação no período laboral, não fornecer ou retardar a entrega de fardamentos e alguns equipamentos de protecção individual».
«Gerir as infâmias e confusões de que fomos alvo, não tem sido fácil e absorveu muito da nossa paciência! Tudo fomos suportando, mas não conseguimos evitar as sequelas infligidas ao Corpo de Bombeiros». Considera que «está na altura de dizer, basta»!
Virgílio Borges pediu desculpa pela frontalidade com que denunciava a “campanha” de que tem sido alvo, mas não podia «continuar calado» para não «correr o risco de cumplicidade nesta caminhada louca para o abismo».
Considera que o socorro em Seia tem sido assegurado devido «ao muito engenho, à mestria e sacrifício dos bombeiros e do seu comando» mas avisa que não sabe «até quando o vamos conseguir», denunciando que «a continuar esta política de gestão, o futuro do Corpo de Bombeiros de Seia está comprometido».
Acusando a direcção de se intrometer nos assuntos do comando, Virgílio Borges referiu também na sua intervenção que aos directores «cabe a responsabilidade de angariar e gerir os recursos financeiros» necessários para equipar o Corpo de Bombeiros, pois «foi para isso que foram eleitos». Aconselhou-os a consultarem os Estatutos da Associação, admitindo que «por desconhecimento das obrigações não estejam interessados em proporcionar-nos as ferramentas, os equipamentos e os fardamentos para que possamos dar o cumprimento à missão que nos está confiada, mas ao menos não criem dificuldades», solicitou.
O comandante agradeceu, contudo, o «empenho e disponibilidade» na angariação de fundos que permitiram a aquisição de alguns bens. Aos poucos bombeiros fardados que se encontravam na sala pediu ainda mais um esforço: «de se manterem unidos, de continuarem com o empenho de prestar o melhor socorro e de continuarem nesta caminhada em prol do semelhante», porque a época que se avizinha «não admite fraquezas».
Virgílio Borges disse ainda que as prioridades imediatas são «pacificar» o Corpos de Bombeiros e «exigir as condições» para que o «bom trabalho» se faça em segurança. Promete não se poupar as esforços e não está preocupado com «as pressões, muito menos a estonteante vontade de nos silenciar ou asfixiar». Referiu também que «não hesitará» em recorrer às instâncias e autoridades competentes apoio para «denunciar o que nos está a ser infligido».
Caminhar todos no mesmo sentido
O presidente da Assembleia-Geral, José Miguel, reconheceu que «há falhas, há problemas» mas pediu «ajuda» para os resolver. Apelou a uma «boa colaboração» e a uma «dinâmica» que leve todos a «caminhar no mesmo sentido».
Não respondendo directamente ao comandante, Paulo Hortênsio referiu que a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Seia é uma instituição que «está acima de qualquer questão pessoal».
Relevar a riqueza da Associação
Dando maior importância aos factos do que «às palavras por bonitas que sejam», o presidente da direcção salientou que a efeméride deste ano seria «especial», começando por fazer um encontro com a história, desbravando «um pouco da nossa memória e da nossa glória e uma passagem pelo trajecto mais recente desta Instituição». «Um relembrar do passado e um perspectivar do futuro, sem nunca esquecer o presente», salientou.
Prometendo fazer do 80º aniversário uma oportunidade para «relevar a riqueza» da Associação, Paulo Hortênsio referiu que essa riqueza «não advém dos seus equipamentos e das suas viaturas, mas antes das pessoas que fizeram e fazem dela a Instituição mais pujante deste concelho».
Sem nunca reagir às acusações do comandante, o dirigente reafirmou que são «unicamente as populações e os bombeiros «que nos motivam e estimulam», continuando a direcção disponível para «trabalhar em prol da comunidade, no sentido de querer contribuir para um futuro melhor».
No encontro com a história (ver caixa), a direcção da Associação Humanitária procedeu ao reconhecimento de um conjunto vasto de colaboradores, a antigos bombeiros, chamando-os novamente a fazerem parte integrante e interventiva da Associação, e ainda a «quatro formas de estar com a Associação», homenageando o sector empresarial, as instituições, antigos dirigentes e reconhecendo, a título póstumo, dois antigos comandantes e um bombeiro anónimo.
Na cerimónia a Liga dos Bombeiros Portugueses distinguiu João Paulo Oliveira Mota com a Medalha de Serviços Distintos – grau prata, pelo excelente trabalho que tem vindo a desenvolver na chefia da Fanfarra, sendo hoje «a melhor Fanfarra do distrito da Guarda», enalteceu Gil Barreiros, vice-presidente do conselho executivo da Liga.
A surpresa do aniversário estava reservada para o fim, com o aparecimento de uma nova viatura ligeira de combate a incêndios, adquirida pela direcção com a contribuição de diversas pessoas e instituições.
(Fonte: Porta da Estrela)