
Noel Ferreira, o piloto que morreu hoje, era comandante da Força Aérea Portuguesa e um piloto com larga experiência em situações de resgate aéreo, para além de combate a incêndios.
Em declarações prestadas há cerca de um ano ao JN, Noel Ferreira dizia que “Para além da formação básica, é essencial ter bastante treino. Por muita teoria que tenhamos, as condições de combate nunca são iguais de um fogo para o outro e isso só se resolve com muito treino e, principalmente, com a ligação que temos de ter com a brigada aerotransportada, pois nós só fazemos o que a brigada pretende, para os salvaguardarmos. A relação entre os pilotos e a brigada é a parte que exige bastante treino”, salienta o piloto, anotando que a única preocupação “da parte da pilotagem é sempre tentar colocar de parte a questão do sentimento e operar o helicóptero em segurança, tentando facilitar a vida à brigada e colocá-la o mais próximo possível do fogo”.
Noel Ferreira defendia na altura que a rapidez com que o aparelho que manobra descola e coloca a equipa no local do incêndio faz a diferença no combate. “O helicóptero tem outra mobilidade que os aviões não têm e consegue aterrar e deslocar de qualquer sítio, o que permite colocar a brigada nos sítios ideais. Os aviões têm a vantagem enorme da velocidade e mais capacidade de água, nós temos é muito mais mobilidade”, completava o piloto.
Quando assumiu o Comando dos Bombeiros de Cête, o JN fez o seguinte retrato deste homem:
“Enquanto a maioria dos colegas sonhavam ser jogadores de futebol ou bombeiros, Noel Ferreira sempre teve um sonho diferente. “Desde que me lembro que o meu objetivo de vida, e era o que diziam as composições da escola, era ser piloto, apesar de não ter nenhum militar ou piloto civil na família. Pode ter sido de ver o “Top Gun””, brinca.
Mas até chegar lá, não houve quase nenhuma atividade em que Noel, natural de Cete, Paredes, não se tivesse envolvido. Foi karateca, integrou os escuteiros, jogou voleibol, fez ginástica acrobática, praticou BTT e fez canoagem.
Aos 17 anos, sem nunca ter entrado num avião, conseguiu convencer os pais e alistou-se na Academia da Força Aérea. Ainda projetou ser piloto de caças, mas acabou apaixonado pela busca e salvamento. Tem hoje 35 anos, é capitão-piloto-comandante e já comandou centenas de operações.
Há uma que não esquece: “Estávamos a operar nos Açores e fomos buscar um pescador que tinha feito uma amputação parcial de um pé. Estava uma tempestade descomunal com ondas de 14 metros, ventos de 100 quilómetros hora, muita chuva e pouca visibilidade. Houve um milésimo de segundo em que considerei desistir da operação. Foi a única vez que pensei desistir”.
Ainda antes de ingressar na Força Aérea tinha sido socorrista e bombeiro nos Voluntários de Cete, entre 2001 e 2005. Quando a corporação atravessava uma fase difícil disse presente e veio ajudar e quando lhe pediram para ficar como comandante aceitou. Hoje, comanda muitos amigos de escola e outros que o viram crescer. “Nunca tive esta ambição, mas é um privilégio liderar estas pessoas”, garante. O tempo, que não é muito, é agora dividido entre o emprego de sonho, a família e os bombeiros.”
O Portal Bombeiros.pt deixa aqui um público agradecimento a Noel Ferreira e à sua família por todo o sacrifício que sempre tiveram e deixa os mais sinceros sentimentos à família, amigos e à Afocelca.
(actualizada às 20h30)