Este grupo especial de combate a incêndios da GNR termina formação para a semana, mas ainda não tem meios necessários para trabalhar, admite o comandante numa comunicação interna a que o PÚBLICO acedeu.
São a força em que o Governo aposta para mudar o paradigma de combate a incêndios, mas a uma semana de terminarem a formação, os famosos GIPS (Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro) ainda não têm equipamento de protecção individual (EPI), não têm luvas, carros, rádios, telemóveis, computadores ou impressoras, nem sequer condições de descanso em todos os centros de meios aéreos onde vão ficar sedeados – que também não sabem quais são. O balanço é feito pelo comandante desta força num email interno a que o PÚBLICO teve acesso e que mostra que estes profissionais podem começar a trabalhar no Verão sem estar em plena força.
“Nesta data [a 15 de Maio, quando concluírem a formação] passamos a contar com cerca de 1070 militares, mas não temos Equipamento de Protecção Individual (EPI) – capacete, cogula, luvas, farda, etc -, nem viaturas para os transportar”. É esta uma das conclusões a que chega o comandante do GIPS, o major Cura Marques, num email interno que escreveu para prestar contas aos seus homens do estado da força, assumindo que para a semana terminarão a formação e serão colocados em centros de meios aéreos.
A comunicação tinha como propósito dar a conhecer decisões e “evitar algumas confusões”, mas o que evidencia é o estado actual em que se encontra a força que deverá ser a protagonista principal do primeiro ataque aos incêndios: sem meios, sem saber quando os tem e ainda sem colocações definitivas. Só com o fim da formação “iremos saber as vagas e colocações de todos os militares dos GIPS”, lê-se no email.
Estes mil homens (incluindo 500 novos que ainda estão em formação na Figueira da Foz) vão estar sedeados em 33 centros de meios aéreos espalhados pelo país e integrarão equipas transportadas para incêndios nos helicópteros da Proteçcão Civil sempre que estes forem accionados. No jargão da Protecção Civil, vão ser as equipas de ataque inicial aos incêndios (primeiros 90 minutos), com a ajuda de helicópteros e ferramentas manuais e a companhia dos bombeiros locais, antes da chegada de outras forças. A intenção do reforço deste grupo especial é a de atacar os incêndios logo no seu início para evitar que tomem proporções maiores.
“Previsivelmente (com alguma sorte à mistura) podemos ter uma farda por militar, botas, cogula, óculos e capacete no dia 20 de Maio. Sublinho que só teremos uma farda… não há tecido em Portugal para mais nesta altura. Esclareço também que nesta altura provavelmente não vai haver luvas (estamos a pensar em soluções ‘imaginativas’ para solucionar este problema. Até agora não vemos a luz ao fundo do túnel)”, informa o major aos seus homens sobre o estado do seu EPI.
O deadline começa a apertar para esta força que, depois de terminada a formação, tem de cumprir um mês de estágio, já em plena época de incêndios, sem ter muito tempo para se habituar ao trabalho no terreno. No e-mail, o major da GNR diz que se for possível ter o equipamento completo, a 20 de Maio os GIPS irão “ocupar todas as bases e fazer algum trabalho” próprio das suas funções. Contudo, levanta a possibilidade de a 1 de Junho isso ainda não ter acontecido e, como tal, os militares serem na mesma distribuídos pelos centros de meios aéreos, mas apenas para patrulha, só fazendo efectivamente combate se houver “militares com EPI em número suficiente”. Ou seja, não estarão em plena força.