Miguel Grave Pereira acusou Constança Urbano Sousa de falta de consideração institucional. Leia a carta de demissão
Foi com uma carta dura para a ministra da Administração Interna, Constança Urbano Sousa, que o general Miguel Grave Pereira pediu a sua demissão do cargo de Presidente da Proteção Civil. No documento, a que o DN teve acesso, o major-general afirmou ter perdido a “confiança institucional” na ministra, uma vez que esta não lhe terá dado conhecimento das conclusões de um inquérito da Inspecção geral da Administração Interna (IGAI) sobre a entrega a privados da operação e manutenção dos helicópteros Kamov.
Na carta, Miguel Grave Pereira afirma ter sido informado pelo Chefe de Estado Maior do Exército, Rovisco Duarte, do inquérito conduzido pela IGAI. “Registo com profundo desagrado o facto de Vossa Excelência ter objetivamente optado por me manter no desconhecimento desta matéria, que se refere diretamente à Autoridade Nacional de Protecção Civil e a seus elementos”, começou por dizer Grave Pereira na carta de demissão, datada de 6 de setembro. “Considero esta posição de uma absoluta falta de consideração institucional e pessoal, para mim incompreensíveis e inaceitáveis”, acrescentou o ex-diretor da Protecção Civil. O general fez ainda questão de dizer que as “causas do pedido de demissão nada têm a ver com o inquérito da IGAI” que, à data, afirmava desconhecer, mas sim com a perda da “confiança institucional” em Constança Urbano Sousa.
A demissão do general já levou o PSD a anunciar que pretende ouvir no Parlamento a ministra da Administração Interna. O vice-presidente da bancada do PSD, Hugo Soares, disse que a demissão do presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil surpreendeu por ser numa altura em que o país se encontra fustigado por um conjunto de incêndios que têm alarmado as populações e devastado uma grande parte do território. “Por isso, o PSD considera que a ministra da Administração Interna e o presidente demissionário da ANPC têm que rapidamente dar justificações acerca deste facto.”
O deputado do CDS Nuno Magalhães também já declarou que o seu partido iria viabilizar a audição da ministra e do ex-presidente, sublinhando que o país vive ainda um “momento muito difícil” a nível de fogos florestais, com “bastantes incêndios ainda por resolver” e uma semana onde o calor se tem sentido particularmente. O partido espera que a saída do presidente da Proteção Civil não “venha a influenciar negativamente a capacidade de resposta”.
A empresa Everjets esclareceu que “nada tem a ver com as conclusões do inquérito da Inspeção-Geral da Administração Interna” sobre a gestão dos meios aéreos, e “nem a sua atuação e comportamento foram alvos desse inquérito”. Em comunicado, a Everjets refere que, tanto quanto foi possível saber, as conclusões do inquérito da IGAI e as suas consequências referem-se à forma como foi feita a receção dos aparelhos pela ANPC, os quais eram anteriormente operados pela Empresa de Meios Aéreos e mantidos pela Heliportugal. “Se a Everjets tem alguma responsabilidade no assunto foi na recusa em receber os aparelhos no ato de consignação, devido ao estado calamitoso que os aparelhos apresentavam. Foi devido a essa recusa que a ministra da Administração Interna do anterior governo ordenou a realização do inquérito pela IGAI”, diz a empresa.
DN