
Rafael Almeida
A época natalícia pressupõe inúmeras ações de ordem afecto-carinhosa entre as diversas pessoas num determinado seio comunitário, havendo lugar às mais evidências manifestações de solidariedade, numa áurea toda ela envolta nos mais nobres gestos e atitudes para com o nosso semelhante.
Nesse sentido, e entendendo que todo esse clima agisse como um propulsor, nos Bombeiros avançámos com uma Campanha de recrutamento de estagiários, com o objectivo de agregar novos elementos à causa, provocando uma campanha massiva, diluída entre a estrutura digital através da internet e pela presença física em todas as turmas do ensino secundário. No entanto, e sabendo das dificuldades que íamos encontrar, o resultado foi bem pior do que o expectável. Em termos práticos, o retorno cingiu-se a dois cidadãos.
Mais do que a falta de “oferta” de pessoas munidas com características tão peculiares como são as dos Bombeiros, inicia-se um ciclo diferente onde, além deste desinteresse cívico e que merece uma preocupação mais profunda, a “substituição” dos elementos que se vão desagregando dos bombeiros por diversos motivos não ocorre, o que leva a um défice de recursos humanos com consequentes fragilidades nas respostas às solicitações.
Se outrora os bombeiros conseguiam manter nos seus quadros elementos com longevidade, desde a sua entrada até ao quadro de honra meritoriamente, actualmente é raro. Ocorreu em Foz Côa, como deverá ocorrer um pouco por todo o país. Há, de facto, um transversal desinteresse pelo voluntariado.
Urge, em muito curto espaço de tempo, a existência de respostas adequadas à responsabilidade, não só por parte dos Corpos de Bombeiros, como também do poder político central e local e também da própria sociedade civil. Mais uma vez refiro: é necessário fazer uma reflexão profunda sobre os bombeiros em Portugal. São necessárias reformas sistémicas nos bombeiros e nas estruturas diretivas. É necessário haver espaço e disponibilidade para o pensamento na profissionalização da linha de socorro em Portugal. É necessário debruçar as escolas e ensino superior sobre esta nova forma da sociedade encarar e incutir valores de ordem ética e moral nas personalidades dos seus discípulos, que, fatuamente, não existe. É necessário criar conceitos de direitos e deveres cívicos e, olhando para um Portugal mais profundo, envelhecido, financeiramente débil e socialmente desequilibrado, nós bombeiros, estamos a segurar uma carga demasiado pesada para as consequências que possam daí resultar.
Por cá costumo dizer, “há comandantes bons e há comandantes menos bons, mas não há comandantes sem homens”.
Feliz natal a todos e um próspero 2021!
Rafael Almeida
(Título da responsabilidade da redação)