Foi com todo o gosto que, desde há anos aderi, voluntariamente, à colaboração nas Crónicas Semanais do Portal Bombeiros.pt.Mas desde há algum tempo, dadas as dificuldades acrescidas com que os responsáveis dos Bombeiros são confrontados, proporcionado até um certo desnorte, alguma desunião e sérias dúvidas quanto ao futuro do sector, tenho vindo a sentir muitas dificuldades em opinar acerca da realidade actual dos Bombeiros Portugueses.
Veja-se o caso do Transporte de doentes não urgentes, nomeadamente as alterações ao sistema que têm vindo a aparecer em catadupa desde Dezembro de 2010, sempre contra os Bombeiros e sempre contra os doentes. Mas o recente caso da Portaria nº 142-B/2012 é mais do que elucidativo da confusão que existe. A Liga, que foi parceira na negociação das condições em que o SNS assegura os encargos com este tipo de transporte, nem o seu nome viu referido na citada Portaria mas antes substituído pela referência “representantes do sector de actividade dos transportes”. E ninguém disse nada, ou pelo menos nada transpirou por esta falta de ética, depois de se ter verificado que a Liga, afinal de contas, foi como que ignorada nesta negociação. Mas da mesma pode sobressair uma séria dúvida, legitima: -Se nesse Grupo, os Representantes da Liga tivessem contado com um Médico que faz parte dos seus Órgãos Sociais, com a sua experiência acumulada, quem sabe se os resultados teriam sido outros, para melhor?
Ainda sobre este capítulo, à última hora, por pressão da Federação de Lisboa, o Estado foi obrigado a recuar e a celebrar isoladamente com esta Instituição um acordo diferente, parece que menos prejudicial para os Bombeiros, e segundo se pensa, mas não se tem ainda a certeza porque ainda não se conhece a sua publicação, que o mesmo será extensível a todo o Continente.
Mas veja-se também a calamidade que foi o primeiro trimestre deste ano com um número de incêndios florestais nunca antes visto naquela época do ano, sem que o Estado tivesse tido o cuidado de criar meios expeditos para suportar as despesas extraordinária com que as Associações e as Câmaras tiveram que arcar nesses combates. É certo que o Estado decidiu adiantar os duodécimos de Novembro e Dezembro a 100 Associações de Bombeiros, uma média de 4.000 Euros a cada uma, quando bem sabe que os encargos foram muitíssimo superiores e suportados por um número muito maior do que as tais 100 Associações de Bombeiros, pondo em risco a solvabilidade financeira de muitas delas. Mas o Estado propõe-se também subsidiar com 80 cêntimos cada litro de combustível gasto no DECIF em curso, manter o subsídio a pagar aos Bombeiros que em regime de Voluntariado admitem participar no DECIF (1,70 por hora) e ainda, esse mesmo Estado, está a fazer tudo para que os profissionais das Associações e das Câmaras que, nas suas horas vagas participem no DECIF voluntária e solidariamente, vejam esses pequenos rendimentos englobados em sede de IRS.
Mas, é bom não esquecer, os Bombeiros já tinham sido brindados pelo Estado quando este lhes retirou a isenção das Taxas moderadoras no acesso aos cuidados de saúde hospitalares e, veja-se lá o descaramento, o desconhecimento ou outra coisa pior, esse mesmo Estado ainda terá dito que os Bombeiros poderiam ficar descansados que, em caso de acidente em serviço, seriam mesmo assim devidamente cuidados, como se desconhecesse que para essas situações os Bombeiros ainda vão tendo os seus seguros de acidentes de trabalho ou de acidentes pessoais. E já que falamos de seguros, nunca será de mais voltar a recordar que os seguros dos Bombeiros estão desajustados da realidade pois, em caso de morte em serviço, os valores continuam a ser inferiores aos dos seguros dos elementos das forças de segurança, e em caso de sobrevivência, também os valores dos tratamentos há muito carecem de ser actualizados.
Entretanto, para compor o ramalhete, vem um SE dizer que os Bombeiros se têm que agrupar, reduzindo drasticamente o número de Corpos de Bombeiros, como se quisessem passar a papel químico a reforma administrativa que, nem de perto nem de longe, merece dos autarcas e das populações qualquer tipo de consenso. Nestas circunstâncias, tenho memo muita dificuldade em falar dos Bombeiros de hoje porque não percebo o que é que o Estado pretende deles, porque tendo dificuldades em entender se o Estado sabe como foram criados os Bombeiros e se sabe das limitações que se vão acentuando em muitos Corpos de Bombeiros dados os entraves que esse mesmo Estado lhes vai criando. Face a tudo isto, sem qualquer tipo de maldade, mas antes de muita atenção ao que se vai produzindo, começo a pensar se o Estado não quererá mesmo acabar com os Bombeiros de Portugal.
Entretanto, no meio de tudo isto, o Verão está a chegar para fazer das suas. Deseja-se que o mesmo não venha a ser parecido com os de 2003 ou 2005 de tão má memória.
Fico-me por aqui, desejando que as Federações se saibam unir com as suas Associadas à Liga, para poderem falar a uma só voz, na defesa deste país que somos nós todos.
Carlos Pinheiro
03.06.12