Um olhar sobre os idosos no contexto da emergência pré-hospitalar

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Luís Andrade

Luís Andrade

Ao longo da história, prolongar a vida foi uma das mais extraordinárias e mais notáveis vitórias que a humanidade alcançou.

A conquista da vida deixou de estar exclusivamente focada no combate à doença. A vida passou igualmente, a conquistar anos ao tempo e mais décadas de existência, o que significa que com o aparecimento de novos desafios, passou-se a exigir à nossa sociedade, maior sensatez para a resolução e ultrapassagem de todos esses mesmos desafios.

Se por um lado, a nossa sociedade incentiva para o envelhecimento ativo e saudável, confrontado com o estigma, marginalização, indiferença e as limitações no que diz respeito à justiça e igualdade, por outro lado temos a aplicação do progresso tecnológico e cientifico que passou a ser uma exigência face às respostas de saúde, mas que, com a crise económica este investimento ficou condicionado.

Perante estes condicionamentos, se refletirmos sobre as variações geográficas nos cuidados de saúde, a verdade é que continua a existir uma grande assimetria que ofende gravemente o princípio da equidade e eficiência. Evidenciamos um interior pobre com poucos investimentos, perante uma população envelhecida, contrastando com um litoral com evidências de maiores investimentos, perante uma população mais jovem.

Ao olharmos para a área pré-hospitalar como o início na prestação de cuidados de saúde, temos profissionais com poucas horas de formação em resposta aquilo que são as necessidades dos serviços de emergência, mas que contrariamente aquilo que se possa pensar, existem outros profissionais com qualidade de formação, com base em carreira sólidas e estáveis, em melhores condições para responder a esta exigência. Destes profissionais, destacam-se médicos e enfermeiros com um elevadíssimo grau de diferenciação e competência.

Contudo, são na sua grande maioria, outros os técnicos que têm respondido às necessidades existentes até ao presente, mas que não se pode deixar de endereçar o maior elogio, pelo seu empenho na prestação dos cuidados de saúde, mesmo face às suas limitações.

A defesa da vida passa pela necessidade de se recriarem estruturas com objetivos bem definidos, no que se refere ao princípio básico de manter a sustentabilidade da dignidade humana. Hoje em dia, as fórmulas matemáticas confrontam-se com imensas variáveis, na qual o interior do país sai mais prejudicado se considerarmos, o número de casos de pessoas que necessitam de apoio de terceira pessoa devido ao seu elevado grau de dependência e o crescimento populacional de idosos que residem sozinhos de forma isolada, ou mesmo quando têm como cuidador um outro idoso que também necessita de ajuda. A probabilidade destas pessoas necessitarem de auxílio é muito maior.

Para aqueles que remetem as responsabilidades para a família, o facto é de que a família não deixa de ser um suporte insubstituível de coesão e apoio inquestionável, mas que por várias situações, nomeadamente a necessidade de procurar trabalho noutros locais, entre outras situações, ficaram condicionadas a este apoio.

Nesse sentido, há que respeitar o aspeto fundamental, que é preservar a vida das pessoas pela sua individualidade, direitos e escolhas, na qual destaco, a opção de continuar a morar na sua residência, sem colocar condicionamentos nas respostas de saúde, no qual a qualidade dos serviços de emergência pré-hospitalar são fundamentais.

Ninguém pode ficar indiferente ou insensível perante alguém mais indefeso, diminuído fisicamente e psicologicamente, limitando-lhe valores comuns da dignidade humana e dos direitos humanos, em que a minimização destes condicionamentos pode passar pela escolha estratégica de profissionais mais diferenciados, para uma intervenção mais adequada no contexto da emergência pré-hospitalar.

Assim, à luz de uma cultura da emergência pré-hospitalar, com contextos cada vez mais exigentes e refletindo sobre os corpos de bombeiros, cabe olhar para alguns profissionais, tais como médicos e enfermeiros, como uma mais-valia que o são. Cabe então a estas estruturas de bombeiros, motivá-los para a prestação dos cuidados de saúde no contexto da emergência pré-hospitalar, colocando-lhes a possibilidade destes virem a serem inseridos no quadro ativo, de forma similar ao bombeiro voluntário, destacando-lhe novas normas, para além daquelas que se encontram definidas a bombeiro especialista.

Não deixa de ser uma opinião, uma possível resposta aquilo que é a capacidade de perceber que nada é certo, e que a sociedade e os bombeiros têm que se adaptar face aos problemas atuais, nomeadamente perante uma população cada vez mais envelhecida e com necessidades especiais.

Luís Miguel Afonso Andrade

 

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Sérgio Cipriano

Natural de Gouveia e licenciado em Comunicação Multimédia pelo Instituto Politécnico da Guarda. Ingressou nos bombeiros com apenas 13 anos de idade e hoje ocupa o cargo de sub-chefe. É um dos fundadores da Associação Amigos BombeirosDistritoGuarda.com e diretor de informação do portal www.bombeiros.pt, orgão reconhecido pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social.